Reconheço-te na justiça do tempo
que desenhou o inverno na tua boca
com a justiça que o tempo
sempre tem sobre os que mentem
reconheço-te na mentira do cabelo
que continua negro
quando o branco é a verdade
porque vives já noutro século
reconheço-te na mentira usual
dos que mentem pelo tempo fora
quando tentam ignorar o passado
mentindo a si próprios
reconheço-te vinda de uma ilha
com a cor expressa no rosto
e palavras diferentes deslumbrantes
que nenhuma mentira pode negar
reconheço-te quando mentes
que não me reconheces
para não denunciares uma mentira antiga
que ambos sabemos que foi verdade
um mentiroso é uma ínsula
a afastar-se de si próprio
com a memória amordaçada.