Adormecido numa nuvem
nessa possibilidade remota
de ter subido ao céu
espanto as aves e os deuses
pela leveza com que subi
tão aaaaaalto
a inesperada segurança
com que sinto o tempo
afinal o lugar onde me encontro
é onde estamos antes de nascer.
A verdade não é o que tu dizes é o que tu pensas
Deixei-te morrer Mariaporque me enganastequiseste interromper a lógica da vidae com a tua mentiraenganaste o mundoainda enganasa mim não ___ que conheço a funçãodesde que fiquei adultopara mim tudo ficou em ruínassobre as ideiase tu Maria já não existesnos nomes de todas as Mariasque nem sabempor que lhes deram o nomefoi por causa de uma mentirae por issoa desconfiança do homemse tornou eternaeste foi aplainando a mentiracomo se tivesse acreditadoem toda a históriaque está nos Livros do enganoa mim não Mariadeixei-te morrer.
Fui expulso da Alegriapor aqueles que mais se riamsilenciosos e previsíveisusam a boca apenas para comerde onde lhes escorre a gordura do pecadocom que salpicam as mamasdas suas damaslevanto-me e saio sem pagar a contanão sem antes lhes dizermais vale rir do que chorar.
O medofaz com que se adiem certas decisõesguardo-me para depoisvisto o sobretudo com a noite dentro
é noite de certeza
em todos os bolsos encontro estrelasadio a decisão de partire adormeço dentro da noitetalvez amanhã se faça diadentro do meu sobretudoentão partirei sem medo do escuro.
Todos os diasarranco à minha língua as palavras necessáriaso espírito a esvair-se pelo bico de um lápise as palavras ali estremecendoé sempre noite adiantadae antes que o dia se acomodeo poema adormeceentão ___ corto a noite a meiodurmo numa metade e à outra metademisturo-a com farinha ___ água ___ salserá o meu pão da manhã.
Atrevo-me a medir o tempoo que passou e o que faltaluz e sombrapalavras e silênciorealidade e ilusãomúsicavozes de criançaas mãos ___ as manchasa falta de talento para a matemáticaerrar de propósitoas contas do tempoo que passou e o que faltacomo se cada minuto fosseum átomo do corpo que se perdefica-se na contemplação da obraque outrora sentámos nos joelhos.
Já sou um retrato parecido comigo mesmocresceu-me a pele mais do que o corpocontra minha vontadenada entendemos dos fenómenos químicosno entanto temos tudo isso nas entranhasnão sabemos nada sobre as voltasque a Terra dá em torno da luz e no entantodistinguimos o dia da noitevirá o dia sem tempopara rever ao espelho a minha aparênciaserei então o primeiro dos que ficareme assim confirmarei para todos a nossa finitudeserei talvez feliz pela compensação que tiverdos séculos que vivi em algumas décadasde tudo despojado nesse instantesentirei nos pés a frescura da relvaterei a família que perdi à minha esperae todos arrumaremos a mesa e a camapara receber os que vieremgostei da recepção todos sabiam que eu vinhaporque lhes cheirou a torradase não era a hora do pequeno-almoço.
Já sou um retrato parecido comigo mesmocresceu-me a pele mais do que o corpocontra minha vontadenada entendemos dos fenómenos químicosno entanto temos tudo isso nas entranhasnão sabemos nada sobre as voltasque a Terra dá em torno da luz e no entantodistinguimos o dia da noitevirá o dia sem tempopara rever ao espelho a minha aparênciaserei então o primeiro dos que ficareme assim confirmarei para todos a nossa finitudeserei talvez feliz pela compensação que tiverdos séculos que vivi em algumas décadasde tudo despojado nesse instante
(continua)