As fotos do delírio
Folheio a propaganda de mais um supermercado
uma revista mole em papel quase brilhante.
Deixo cair os olhos magros
sobre um naco de bacalhau
de vários andares montado
a escorrer pingos de azeite
do que brilha como o sol.
Corro salivando à fonte
de luz e prazer para o ver
ao vivo e perto o mais possível.
Já o povo que o consome
arrastava os seus carrinhos
e bloqueava o palco
salgado e mal cheiroso
onde o famoso actuava.
Senhas para aqui, empurrão para acolá
números vermelhos a cair na parede
esperei ___ salivei
esperei ___ salivei
esperei ___ salivei
esperei ___ salivei
esperei ___ salivei
esperei
e já distraído acordei
com uma mancha azul à frente
da bata com um homem dentro
tirando-me as ilusões :
Queres bacalhau? Já não há!
Depenado como estás
só podes comer "paloco"!
Com a resposta em verso solto regresso ao confinamento
se não trago a promoção volto às fotos do delírio.