Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Ausência para sempre

O homem quase velho
está sentado 
tem na sua frente
dois copos e uma garrafa 
o homem fala para um vazio
numa cadeira vazia 
fala para a ausência do seu pai 
pelo nariz do homem 
passou o cheiro do tabaco 
que o seu pai fumava ___
___ ele estava ali

o homem encontra-se
com a ausência do pai depois 
de muitos anos da sua morte 
o homem é já mais velho 
do que o seu pai 
o homem passou a noite 
meditando na ausência do pai 
e por este estar ausente
foi capaz de lhe dizer
o que nunca foi capaz de lhe dizer 
que terminou num sussurro 
     mato-te para sempre meu pai 
o pai riu-se numa nuvem de fumo
coisa que nunca o viu fazer 

o dia levantou-se 
e uma folha de luz entrou 
por entre as cortinas da noite
brilhante mas diferente 
da luz simples do sol
iluminando o lugar do ausente
o homem não resistiu e saudou
a ausência do seu pai 
com um gole de bebida 
e com as suas últimas lágrimas
depois queimou 
todas as fotos do seu pai.



 


14 comentários:

  1. Que tragédia de memórias que assolam muita gente!
    Beijos e um bom sábado!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A memória não nos dá descanso.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

      Eliminar
  2. Joaquim Ferreira Rosário5 de outubro de 2024 às 11:52

    Bom dia
    Mais um texto com qualidade superior que o autor já nos habituou.

    JR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O seu simpático comentário é oxigénio para o autor.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. " R y k @ r d o " deixou um novo comentário na mensagem "":

    Pensamento real por ser irreal. Gostei. Viver a saudade e a lembrança do pai é algo que me preenche o coração.
    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fazemos viver os que já não vivem.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. Leio e releio teu poema
    e antes que uma lágrima
    me caia
    faço pequenas alterações
    e assumo-o como meu
    Começo pelo título, que passa a ser
    AUSÊNCIA SEMPRE PRESENTE
    e depois de alterações de permeio, adapta o fim
    DEPOIS BEIJOU
    TODAS AS FOTOS DE SEU AVÔ

    ResponderEliminar
  5. Teresa Palmira HOFFBAUER5 de outubro de 2024 às 16:28

    A ausência de entes queridos dói, principalmente, se é uma ausência para sempre.

    ResponderEliminar
  6. A ausência é dura...nunca se esquece, mesmo quando não se fala muito dele... é uma memória muito privada...A do meu "Príncipe esfarrapado" como eu chamava ao meu Pai que no fim já não sabia como eu me chamava.
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  7. Bom dia Luís,
    A ausência dos entes queridos que fica para sempre gravada nas nossas entranhas.
    Belo poema.
    Beijinhos,
    Emília

    ResponderEliminar