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Digo-teque nas minhas veias correo que resulta da reacção químicaentre o aroma da tua pelee o perfume do outonodigo-teque já não é sangueo que verte depois do golpe fatídicoé apenas fantasia.
Encerrei a porta e as janelas da minha casapela primeira vez não sei se voltoreconheço que estou em fuga ___ ficamas minhas sombrasas minhas palavrasecos de gritoschoros e risos de criançasretirei todos os quadros das paredese cobri de panos brancosos móveis sem vidaos meus partiram há muitoa tristeza é uma casa em silêncioe deixar de viver não é apenasdeixar de respirarmorrer é o pó em tudoa roupa amarrotadachá ao jantar e ao amanheceros braços pendidoso passado já não existee no presente não há ninguém
parto em fuga para me reencontrar
com um novo nome ___ assobiando
as malas afinal são leves.
Cinquenta Abris
Trago no bolso um cravo
e na boca uma revolução
se agredirem a minha liberdade
saco do cravo
carregado de vermelho e perfume
e disparo as minhas convicções
de Abril adulto
cinquenta mais cinquenta
de Abris para sempre!
gritarei antes de ser atingido.
Republicação neste dia de reafirmação de Abril.
Estamos todos no caisna hora que nos restade uma tarde nimbada de saudadefalaremos dos que ficarame das nossas dúvidas sobrea saúde dos que não quiseram virfalaremos das suas casasdas suas searase do vento que as ondulafalaremos dos filhosestrangeiros noutras terrasna facilidade do seu cantocujo som nos chega retardadofalaremos emsacrifícioabdicaçãoabandonodesencantoe em tudo o que nos trouxe ao caisaqui ficaremos sentadossobre o resto do que nos restaaté o bolor dar cor à nossa bagageme significado à nossa esperaassim nos salvaremos da eternidadee na última hora vibraremosnuma ruidosa espera profana.
Pouco importa que o trabalho poéticofaça desabar as lágrimasque trazemos na vontade oprimidasem nunca fazerem o caminho naturalface abaixo em direcção à bocapouco importa que tudo se desenvolvaem palavras e mais palavrase que o poema se revelenostálgicorevolucionárioresignadoviolentonão mudará as feições do mundonão levará a luz às minasnão acalmará os maresnão tornará fértil a terraa poesia faz-se para iludir os poetasa poesia existe para ser ignorada.
As partidas são a interrupçãodo decurso normal das nossas vidascomo me incomoda o somdo vai-e-vem do elevador que passalentamente pelo piso do apartamentosempre fico ansioso esperando que parequando me ignora digoParis Paris Parispara te influenciar lá longee acendo mais um cigarroantes da tua memória se consumirno meu sangue em chamascomo o meu Gitanes se consometanto que já não existe mais
um Gitanes e a noiteensinam-me a solidãoe o elevador que não pára!
LorcaDe nada te serviu o nomeo teu destino em nada foi diferentedos que também foram homenageadosde encontro aos muros brancoscom balas iguais às que guardasteno teu peito inflado de poesiao nome foi a tua culpade nada te serviu seres poetaa poesia não apazigua coraçõescalejados pela ausênciade lágrimasde apelosde rogoscom fogo rasuraram as palavrasque trazias tatuadas na almadobraste os joelhose sorriste para a terraantes de a beijares
continuas vivo por sobreos que te matarammarcaste-os com dois claveles.
LorcaEl nombre no te sirvió de nadatu destino no fue diferentede los que también fueron honradoscontra paredes blancascon balas como las que salvasteen tu pecho hinchado de poesíael nombre era tu culpano valía la pena ser poetala poesía no alivia los corazonesencallecidos por la ausenciade lágrimasde súplicasde oracionescon fuego borraron las palabrasque habías tatuado en tu almadoblaste las rodillasy sonreías a la tierraantes de besarla
sigues vivolos que te mataronlos marcaste con dos claveles.