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Encerrei a porta e as janelas da minha casa
pela primeira vez não sei se volto
reconheço que estou em fuga ___ ficam
as minhas sombras
as minhas palavras 
ecos de gritos
choros e risos de crianças 
retirei todos os quadros das paredes
e cobri de panos brancos 
os móveis sem vida
os meus partiram há muito
a tristeza é uma casa em silêncio 
e deixar de viver não é apenas 
deixar de respirar
morrer é o pó em tudo
a roupa amarrotada
chá ao jantar e ao amanhecer
os braços pendidos
o passado já não existe
e no presente não há ninguém  
 
 parto em fuga para me reencontrar
com um novo nome ___ assobiando   
as malas afinal são leves.


 


14 comentários:

  1. Recomeçar algures num novo sítio? As memórias perduram... mesmo quando enterradas no canto mais escuro da mente....
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Vivemos na ilusão de que se começa alguma coisa de novo.
      Um abraço.

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  2. Eu acho que é sempre possível começar de novo, mas é preciso querer e saber fechar portas para abrir outras, a maior parte permanece hesitante, fica nos umbrais ou com portas meio abertas.

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  3. Comenzar una vida nueva, ir a un lugar en donde nadie te conoce, conocer nuevas amistades, tener nuevas inquietudes. Un mundo de aventuras, tienes por descubrir.
    Un abrazo.

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  4. Este seu esplêndido poema remeteu-me para um livrinho de Daniel Sampaio, A Arte da Fuga, editado pela Caminho em 1999.

    Ele fala das fugas de um jovem mágico, no sentido literal do termo. Eu, que não sou psiquiatra, apenas consigo acreditar que o som do seu assobio possa aligeirar muitíssimo o peso das malas...

    Tenho os meus livros cobertos de pó, mas recuso-me a deixar partir os que habitam a cidade da minha memória.

    Há em si um pouco daquele jovem mágico, L.

    Forte abraço!

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    1. Estes seus comentários são muito interessantes, leio-os com prazer. Por aqui também há muito pó, à noite espero que dêem início a um pó de estrelas... por enquanto não.
      Um abraço.

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  5. boa tarde
    estamos todos em fuga....
    de nós mesmos
    e nem sabemos
    ou não queremos saber
    é mais confortavel ...

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    1. Boa tarde
      Estou de acordo, chegamos a estar desencontrados connosco próprios.

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  6. Bom dia Luís,
    Um poema magnífico.
    No entanto a fuga não resolve o silêncio e a nostalgia das ausências,
    porque as memórias perseguem-nos.
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Emília

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    1. As ausências são como se nos tirassem uma parte da vida.
      Um abraço.

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