Toma conta da tua rotina
e rasga-a com os dentes
Depois do vulcão de anos na tua casa
agora estás em quietação
ninguém dentro desse silêncio
confeccionas a tua própria sopa
à medida da tua boca rotineira
e ao jantar repetes até ao enjoo
o pão que afogas numa cerveja
pões à tua frente as fotos dos que te faltam
é comovente mas insistes na dor
assim talvez também sintam a tua falta
comoção e dor também são vida
no corredor da tua casa ainda ouves
a correria do teu filho ___ a sua voz
antes de lhe ter crescido a barba escura
com que te beija tangendo a tua barba branca
quando te visita no dia de natal
sei o que te sulca a alma todos os dias
pores-te a pensar que tens um nome
e que já nem te lembras da última vez
que alguém o disse em voz alta
compreendo-te na tua forma de estares só
espera por uma visita e enquanto esperas
dissolve num café com lágrimas
a ansiedade da espera
e rasga a tua rotina com os dentes.