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Caminheiro sem sapatos


Calço os teus sapatos e caminho

eles são à medida da vertigem

de caminheiro inútil 

tomaste conta da minha viagem

e trago-te na memória 

como uma mochila de pedras

sou já um aposentado dos sentimentos 

e sei que não há compaixão 

para quem vive de tão curta pensão 

darei a volta ao mundo

ao meu mundo cansado

no regresso deixarei à tua porta

os teus sapatos e neles

a primavera de um lugar longínquo 


rasgo o mapa da nossa vida

e parto descalço.



 

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