Foto de Daniel Filipe Rodrigues 


 

Estamos todos no cais
na hora que nos resta
de uma tarde nimbada de saudade
falaremos dos que ficaram
e das nossas dúvidas sobre
a saúde dos que não quiseram vir
falaremos das suas casas
das suas searas
e do vento que as ondula 
falaremos dos filhos 
estrangeiros noutras terras
na facilidade do seu canto
cujo som nos chega retardado
falaremos em
sacrifício 
abdicação
abandono
desencanto
e em tudo o que nos trouxe ao cais
aqui ficaremos sentados
sobre o resto do que nos resta
até o bolor dar cor à nossa bagagem
e significado à nossa espera

assim nos salvaremos da eternidade
e na última hora vibraremos
numa ruidosa espera profana.



4 comentários:

  1. Falaremos dos que nos aguardam...
    Falaremos de uma espera e de um cais...
    Pode haver silêncio no que nos resta?
    Com o tempo vamos perdendo palavras...
    Esgotaram-se na espera.

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  2. Chegam!
    Naturalmente que chegam...
    Tarde.
    Por vezes basta fazer uma cruz num calendário, com dia e a hora...
    Local?
    Bem... Para quem espera, o local nunca será uma dúvida!

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