Foto de Daniel Filipe Rodrigues 


 

Estamos todos no cais
na hora que nos resta
de uma tarde nimbada de saudade
falaremos dos que ficaram
e das nossas dúvidas sobre
a saúde dos que não quiseram vir
falaremos das suas casas
das suas searas
e do vento que as ondula 
falaremos dos filhos 
estrangeiros noutras terras
na facilidade do seu canto
cujo som nos chega retardado
falaremos em
sacrifício 
abdicação
abandono
desencanto
e em tudo o que nos trouxe ao cais
aqui ficaremos sentados
sobre o resto do que nos resta
até o bolor dar cor à nossa bagagem
e significado à nossa espera

assim nos salvaremos da eternidade
e na última hora vibraremos
numa ruidosa espera profana.



12 comentários:

  1. Falaremos dos que nos aguardam...
    Falaremos de uma espera e de um cais...
    Pode haver silêncio no que nos resta?
    Com o tempo vamos perdendo palavras...
    Esgotaram-se na espera.

    ResponderEliminar
  2. Chegam!
    Naturalmente que chegam...
    Tarde.
    Por vezes basta fazer uma cruz num calendário, com dia e a hora...
    Local?
    Bem... Para quem espera, o local nunca será uma dúvida!

    ResponderEliminar
  3. Reparei na continuidade da construção poética entre si e o Anónimo/a , L. . mas que aqui me apraz deixar gravado é que há muito que venho reparando no seu inegável crescimento enquanto poeta. E sinto-me feliz por isso, apesar de não ser uma voz com qualquer peso no meio literário que continua na posse de elites, embora possa parecer que não.

    Um forte abraço, L.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É um gosto receber uma apreciação assim e vinda de si tem o especial valor de uma entendida. Estou de acordo com as suas considerações sobre o meio, artístico em geral. É preciso estar nos lugares certos e conhecer as pessoas certas. Ah, e fazer concessões.
      Um abraço.

      Eliminar
    2. Concordo, mas
      desconforta-me e desespero da espera
      e mais
      resisto a fazer concessões

      Eliminar
    3. Sim, ninguém gosta de esperar. Concessões... todos fazemos, por vezes sem repararmos nisso.

      Eliminar
  4. Acabamos por falar de tudo e de todos... dos que ficam em silêncio, escondidos e parecem que nada têm a dizer... dos que falam de tudo e nada dizem... e sim, dos que nunca chegam... porque já partiram...
    Belo...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Falar, por agora é o que podemos fazer, vamos lá ver o futuro.
      Um abraço.

      Eliminar
  5. Boa noite Luis,
    Um poema de que gostei muito.
    Estamos todos num cais, em qualquer parte, à espera de alguém que queremos abraçar.
    Somos todos filhos do mundo em completa mutação.
    Beijinhos e bom domingo.
    Emília

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estamos juntos sentados sobre a nossa bagagem... esperamos.
      Um abraço.

      Eliminar