Porque só me procuras em dias de chuva? 
Será talvez porque há setenta anos
ficávamos nesses dias em brincadeiras
tão irreais que nos pareciam reais. 
Tanto tínhamos de igual
os três que éramos nesse tempo
as mesmas palavras, os mesmos aromas, 
os sons tão iguais, a mesma luz. 
Não herdámos nada, nem família, 
atrás de nós não há ninguém,
nem gente, nem lugares, nem história
a pobreza memorial total
já nem de nós temos memória. 
O que se passou connosco durante tantos anos
para ficarmos assim como desconhecidos
cada vez mais irreconhecíveis
embora gerados pelo mesmo útero?


13 comentários:

  1. Bom dia. Amei ler. Infelizmente a grande maioria dos irmãos só o são, na verdadeira acepção da palavra, enquanto estão em casa dos pais. Depois, bem depois...esquece.
    .
    Bom início de semana
    Abraço

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  2. Os anos, às vezes, corrompem os afectos. Lindíssimo este melancólico poema!
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  3. Bom poema,L. Sóbrio, mas bom.

    Aconteceu a vida, L., aconteceu a vida...


    Abraço

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  4. é a vida
    dirão os mais simples
    e
    será?!
    acho que sim
    boa semana e saúde
    :)

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    1. Sim, é a vida. Poderia ser diferente.
      Muito Obrigado pelo seu comentário.

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  5. Um poema triste e interrogativo, mas o tempo faz destas coisas. Caso sejam irmãos, há 70 anos, tudo era diferente, havendo muito afeto, unidade e brincadeira. Agora, sentem-se "perdidos" uns dos outros. Razões: talvez nenhumas.
    Não pense ser caso único. Acontece, infelizmente, com várias famílias. Eu não terei esse problema, pois não tenho irmãos, nem irmãs.

    Que as nuvens, um dia, possam ficar mais claras, minha amiga ou meu amigo!

    Abraço e boa semana.

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    1. O tempo faz e desfaz ou pelo menos... confirma. Obrigado pela atenção de me chamar amigo, sim, amigo.
      Muito Obrigado pelo seu comentário.

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  6. Gostei da transição do passado para o presente
    Bem feito

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  7. É o sangue que chega de fora (os cunhados) que dilui a antiga união dos irmãos
    :)

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