O que farei com as minhas memórias? 

Em dias de sol, 
apenas em dias de sol "desmisturo-as",
as boas memórias para a esquerda, 
as más memórias para a direita. 

Separo depois as boas desta maneira:
aquelas com que aprendi
e as que me deram prazer. 
Mergulho nelas, dou braçadas 
e mesmo sem saber nadar no meu passado
não me afundo fico à tona até o sol se afogar. 

As más rego-as com a compreensão 
e largo-lhes o fogo do esquecimento, 
sopro para longe as más memórias dos outros,
ficarão ainda as cinzas, com o tempo,
um dia, um golpe de vento as levará. 

O que farei com as minhas memórias? 

A verdade é que não sei o que fazer delas
e lanço-me à construção de novas memórias inúteis.




12 comentários:

  1. As memórias como último recurso da nossa existência. Um refúgio pouco seguro e que nos tira muitas vezes tranquilidade para viver.
    Gostei

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    1. Comentário certeiro sobretudo no final da sua frase. Obrigado.
      Boa Noite.

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  2. Belo poema
    contudo
    a memória que temos, o que fica
    é a nossa própria memória
    que a separa
    É que toda a memória é selectiva

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    1. Estou muito de acordo, tenho constatado isso ao longo da minha vida.
      Muito Obrigado pelo comentário.
      Boa Noite.

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  3. Invejo-o, domador de memórias. As minhas não me obedecem e, na maior parte das vezes,fazem-se rogadas. :)

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    1. Bom dia, é tudo ficção, na verdade não consigo pô-las na ordem.
      Obrigado pela sua visita e pelo comentário.
      Até à próxima.

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  4. As memórias visitam-nos. Como me acontece quando venho ao seu blog.
    :)

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    1. O seu comentário é muito simpático. Agradeço-lhe.
      Até logo.

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  5. Maravilhoso ler o que escreve. Pura e doce poesia. Admiro a forma como (tão bem) escreve
    As telas são magistrais

    Cumprimentos

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    1. Fico sensibilizado com as suas palavras. Ajuda-me a continuar.
      Cumprimentos e até logo.

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  6. Lembranças

    Por vezes
    calo-me no silêncio da noite
    e abraço tranquila
    as minhas recordações
    como pérolas ocultas, em tempos idos.

    As memórias ressuscitam
    em fragmentos de mel e fel
    o silêncio rasga-me
    as mágoas que eu enérgica
    escorraço para o vácuo
    e se dissipam devagar.

    eu, apenas deixo emergir
    como sílabas indizíveis
    os momentos que eternizados
    no meu tempo são flocos pintados
    de venturas e ternuras idas.

    e ao alvorecer
    um bando de pássaros acorda-me
    do meu torpor e eu respiro
    o bálsamo das gardénias
    que a mãe tinha na casa grande.

    ©Piedade Araújo Sol 2020-04-06

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    1. Cada um com as suas memórias e cada um a gerir as recordações com as técnicas que foi inventado. Fico sensibilizado com a gentileza de me enviar esse seu poema, afinal, um poema da mesma família do meu.
      Muito Obrigado.

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