Acordo a engolir o silêncio 


Acordo com a sensação 

de ter a germinar uma pedra

na cabeça amarrotada, 

de ser náufrago absurdo

na minha cama-jangada. 

Por isso

com restos doutros poemas

faço um poema hermético

a armar ao rebuscado

um poema desconchavado

a armar ao complicado. 


          Na calma movediça

          deste porto lamentoso

          vejo as horas p'las estrelas

          na hora que se anuncia

          pro banquete das manadas. 

          Com o gesto destas mãos 

          crio a ideia de ti

          e aqui ficamos os dois

          a mascar a excitação 

          com os corpos perturbados

          a engolir o silêncio. 


Já está pronto o meu poema. 

Peço agora esfomeado

meia de leite e uma torrada.




19 comentários:

  1. O silêncio em oposição à palavrae ao gesto nas relações humanas.
    Bem construído

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  2. Pé-ante-pé, juntando os sobejos
    brinca com as palavras
    não lhe adiciona beijos...
    Desfaz do que faz
    e o poema nasce
    pás - catrapás- pás....

    Na Primavera toda a natureza se cobre de verde, porque Deus manda que se ponha a mesa às lagartas, sabia?
    A sua nuvem grande cheiínha de crateras lá vai despejando água nas couves roxas, ou alfaces vermelhuscas.
    Na pintura bem como na p+oesia vale tudo...

    Noite Serena, meu Caro Dom Luís D'Ávila.

    (adoro chamá-lo assim, com toda a pompa e circunstância. Gosto mesmo. )

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    1. Um comentário/poema, um esclarecedor texto sobre a relação da Primavera com as lagartas, uma interpretação da imagem e um gentil baptismo da minha pessoa.
      Tudo isto eu agradeço. Desejo-lhe também uma noite descansada.
      Nota: lembrei-me que nunca lhe disse que a minha avó espanhola tinha o apelido Moreno (Eustáquia Arrabal De Moreno).

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    2. Se fossemos aprofundar a pesquisa sobre as raízes da nossa árvore genealógica,
      quem sabe não descobriríamos que ainda somos parentes?!

      Eu gostava... 🤔

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  3. A sua Poesia é um jogo livre de palavras e metáforas, mas nunca a armar ao rebuscado, nenhum poema é desconchavado a armar ao complicado.

    Ficamos as duas — a POESIA e eu — a mascar a excitação
    bebendo meia de leite e comendo uma torrada.

    Com um gesto rápido agarro a primavera e fujo com ela...



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    1. Gostei do comentário e do apoio que li nas suas palavras. Pode levar a primavera, há mais e mais e mais primaveras.

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  4. Dziękuję za wizytę.
    Dzień dobry.
    Tłumaczenie Google

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  5. Remata o seu poema " hermético a armar ao rebuscado" com meia de leite e uma torrada. Eu, todos os dias acordo com o dilema de ter de escolher o comprimido, dos dois que deveria tomar em jejum, que devo engolir primeiro. Depois, há toda uma série de outros comprimidos, decerto herméticos, que se lhe sucedem, antes ainda da meia de leite. Abdico da torrada.

    Abraço, L.

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    1. O final do meu texto é o momento que dá lugar ao seu comentário muito engraçado e que eu agradeço.
      Até logo.

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  6. Ahahaha, Terminou o poema de forma divina. Ri com gosto. Gostei do trocadilho feito com as palavras.
    A aguarela é, como sempre, muito bonita.
    .
    Deixando um abraço amigo

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    1. Isso quer dizer que o meu desejo teve resultado.
      Obrigado pelo abraço amigo que retribuo.

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  7. Mais uma poesia interessante, com um bonito "jogo" de palavras. A aguarela também gostei !

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  8. El silencio, que en cualquier momento puede ser interrumpido, por el viento sacudiendo las ramas de los árboles, unas gotas de lluvia que golpee en la ventana o bien un gato que maulle en un noche de celo.

    Besos

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    1. Muy lindo tu comentario que enriquece mi texto.
      Muchas gracias
      Un abrazo

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  9. Um poema onde o silêncio é rei e senhor.
    Mas no fim deu-lhe a volta.
    Para mim uma torrada e um café curto.
    Beijinhos
    _:)

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    1. Olá, obrigado, também terminou o seu comentário com humor.
      Um abraço

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