Eu 

versus 

meu corpo

Meu corpo, 

agora não me respondes, 

estás transtornado pela rebeldia? 

Sempre foste um saudável companheiro

e agora, depois de tantos anos

estás neste lento abandono? 

Lembras-te do que reinaste guiado por mim? 

Viagens, 

passeios em locais maravilhosos, 

mergulhos em águas tropicais, 

visitas a museus. 

E outros corpos que conheceste

porque eu te os apresentei

e que te fizeram feliz? 

Por vezes contra a minha vontade

porque pensava que não valia a pena

mas tu não te continhas no apelo. 

Nunca te deixei ficar mal e acedi ao teu desejo. 

Meu corpo, 

sempre foste uma ilha a arder

por isso sempre tive cuidado contigo

nada de excessos, 

banhos diários, 

cremes hidratantes,

perfumes.

As tuas mãos em diálogo mudo

dizem das tuas dores,

compreendo-te. 

Mas as tuas dores confusas são também

as minhas dores a minha febre a minha aflição. 

E a emoção, como a sentes tu sem mim? 

Não existirás para além da minha consciência 

enquanto eu posso continuar a existir

muito depois de ti ___ sem ti. 

Corres o risco de nos separarmos para sempre. 

Vá, obedece-me! 

Dá-me daí a minha bengala!