Que voz, que tempo? 


Que voz é essa que faz tempo

desce pelas montanhas 

e desassossega os nossos rebanhos? 

Nem os cães ladram

têm o maxilar no chão

e ganem à vista dos vultos. 

Fechem os currais, os celeiros 

e as portas das vossas casas. 

Duvidem desse chão de xisto 

e vigiem as sombras 

que circundam o vosso poço. 

O tempo está corrompido 

eu, por mim, dissolvo-me antes

que seja outro dia sem resposta.




14 comentários:

  1. A mesma voz que nos acompanha desde que não havia verbo, nem ser, nem tempo.
    A voz da perseverança

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  2. No poema quase místico ouço a voz de um „deus desconhecido“ a empurrar-me para o sacrifício.

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    1. É uma leitura respeitável que ajuda o próprio autor a ter uma interpretação sobre o que escreveu.

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  3. Bom dia!

    Dez anos o separam do desenho que hoje nos apresenta, penso eu.
    Suponho que durante todo este tempo algo tenha mudado na vida do autor, ainda que continue a sentir-se empurrado para um outro sacrifício.
    Avaliando na actualidade, a precariedade sanitária da vida colectiva, creio bem que todos nos sentimos empurrados para situações de sacrifício.

    As vozes? Ah! Essas, não têm tempo nem época. Se ontem se calaram umas, logo outras hoje se levantam.
    Há que fazer ouvir a nossa voz. Em força, em uníssono...

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    1. Boa análise do texto e perspicácia no exame da imagem. Cantamos juntos, cada um consigo próprio. A história falará desta época e os nossos descendentes a nós se referirão quando falarem do passado.
      Obrigado.

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  4. Hay muchas preguntas que no tienen respuestas.

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  5. Neste dias sem resposta, dissolvermo-nos pode ser a solução...não tinha ainda pensado nisso.

    Um abraço

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  6. Sou pedra
    sem desgosto
    desgasto-me
    não me dissolvo

    nem se me dissolve
    a esperança
    os cães nem ladram
    à caravana que passa!

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  7. os relógios andam todos avariados

    e os tempos também...

    ©Piedade Araújo Sol

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