A partir de hoje


A memória pede-me uma imagem 

de todas uma que não seja do tempo 

em que mostrava os sinais aburguesados 

de quando deixei de ser proletário. 

A memória pede-me uma imagem 

de quando sem vergonha eu era pobre 

e dizia obscenidades. 

A memória pede-me uma imagem 

ainda sem manchas na pele 

com muitas palavras antigas e 

com fundo sonoro de uma música da juventude. 

A essa imagem preservo-a 

com uma moldura parecida com um poema

e torno-a visível em todos os lugares onde estiver. 

Antes que o chão se mexa

sento-me tranquilo a ver o catorze de julho 

e decido que a partir de hoje sou francês.




23 comentários:

  1. A condição de proletário nunca se perde.
    Penso ser perpétua
    Gostei

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    1. Alguns tornam-se empresários (empreendedores, como dizia o outro).

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  2. 14 de Julho e a guilhotina andam de mãos dadas.

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    1. Os "Direitos do Homem", uma consequência objectiva.

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    2. O Luís já leu ou vi no teatro a peça de Georg Büchner „A Morte de Danton“?

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    3. Não li. Mas, como disse José Régio "as revoluções não se fazem a tira-linhas".

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  3. Por aqui
    no meu espaço
    continuo luso
    e celta
    e mouro

    A terra já se mexe
    e me interrogo sobre a utilidade das palavras
    para além da tertúlia proporcionada

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    1. As palavras são a humanização do homem.

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    2. O poeta é francês até às próximas eleições francesas com a Le PEN como presidente!!

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    3. Também é por isso que sou francês. Sou português, espanhol, um pouco francês e sendo de tantos lugares não sou de lugar nenhum. Estarei onde for preciso no combate com as armas que estiverem à minha disposição, esta será uma possível.

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  4. Uma vez proletário, proletário para sempre.
    Diga as obscenidades que disser, faça o que fizer, hoje, jamais voltará a ser o que foi, ontem.

    Vá! Vá lá sentar-se numa esplanada em Nice. Beba uma cerveja gelada e assista, impávido, ao tresloucado acto de um (provável) proletário.
    Festeje-se... Vire-se o símbolo da Mulher de pernas para o ar.
    O espírito da Maria Antonieta continuará a vaguear por aí, até que se desfaça o Mito.

    Quando o povo quer um bode espiatório nunca vai procurá-lo ao próprio rebanho...Imola sempre o cordeiro mais belo do rebanho do vizinho.

    Um braço.

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    1. Gostei muito do seu inspirado comentário. No entanto só não concordo com a frase inicial, há muitos que nascem proletários e deixam de o ser tendo até posições contra os da sua classe, veja-se o "patrão dos patrões" de um lado passou para o outro, hoje combate os da sua classe, e não é caso único.
      Um abraço

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    2. Por norma, vou escrevendo os comentários que deixo <qui, seguindo o que sinto depois de ler e ver as imagens, sem sequer pensar muito, nem rever o que escrevi. Quase sempre me atropelo é certo, e não poucas vezes, se pudesse retiraria algumas frases ou palavras. Hoje, retiraria aquelas com as quais não concoerda, porque também acredito em mudanças.
      De resto, deixava tudo igual.
      Espero que saiba ao que me referi ao mencionar Nice, durante os festejos da Tomada da Bastilha, em 14 de Julho de 2016 ( fui confirmar, agora) .

      (Quanto ao 'patrão dos patrões", vira-casacas, eles são tantos que não estou a ver quem seja.)

      Fiquei contente que tenha gostado do que escrevi. :)

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    3. Gostei e retenho o seu comentário.
      Um dos vira-casacas é o patrão da CIP, nem digo o nome porque me causa aftas.
      Sei do 14 de Julho em Nice.
      Não se justifica a sua vontade de retirar palavras do seu comentário, afinal, deu para a troca de ideias.
      Gostei, muito obrigado.

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  5. Guilhotina para o rei.
    Honras para o imperador.
    A revolução devorou os seus filhos!!

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  6. Summa summarum: os poemas que provocam polémicas são os melhores!!

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  7. Nunca sirvas a quem serviu, diz o povo e tem razão. Os patrões que saíram do proletariado são os mais cruéis.
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Desde pequeno ouvi esse ditado popular e verifiquei ao longo da vida inúmeros casos desses, alguns conheci bem de perto com consequências inacreditaveis.
      Bom domingo, um abraço.

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  8. É porque não conhece a aventura de ser brasileiro ( risos) , caro amigo!! Por aqui , é um susto, atrás do outro, sem chances pra refazimento. Mas no meu sangue corre também o otimismo e a esperança, e um amor incondicional pela minha Pátria amada Brasil!!

    Creia, tudo há de passar! Todas as civilizações se desenvolveram , numa assombrosa sucessão de sombra e luz. E em todas elas, a Luz Venceu ! Observe.
    Felicidades pra ti e teu belo País que um dia hei de conhecer.
    Beijinhos de uma brasileira otimista.

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    1. Tenho acompanhado a realidade brasileira, reconheço a complexidade da situação e ao ponto a que chegou a insensatez que provocou o drama actual desse seu povo. Mas, tal como a Maria Lúcia, também acredito na vitória da Luz embora para lá chegar muito tenha que se caminhar por entre as trevas.
      O meu país fica a aguardar a sua visita, entretanto os nossos povos podem ir trocando palavras.
      Um abraço.

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