Em Paris foi assim


Tenho uma história que conto e reconto

a mim próprio

uma história concluída numa esplanada de Paris. 

Caí desamparado na falta de sonho e de lágrimas 

na rudeza das palavras sem um cântico possível

que tornou a fantasia submissa à miséria 

da luz mortiça do fim do dia cansado. 

Há os que mandam vir outro café 

e iniciam gloriosos outra história. 

Eu, regresso a casa e penso

Elis, há sempre um lamento na tua voz.



 



10 comentários:

  1. Não sou grande admiradora da música brasileira, mas de ELIS REGINA gosto como cantora e como MULHER.

    Ficção ou não — a cena decorre na minha imaginação — como um filme sobre um „português em Paris“.

    A aguarela com a casa como zona de conforto — embora ameaçada pela nuvem cinzenta.

    O Luís sabe muitíssimo bem que eu não gosto de mastigar elogios — mas não resisto de lhe dizer de que gostei de tudo.

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    1. É um prémio para mim receber esse seu comentário satisfatório. Gostei das referências e da interpretação da imagem.

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  2. A Elis tinha várias estórias.
    Um poema denso mas em forma de homenagem à cantora.
    Bom domingo Caro Poeta!
    :)

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  3. Vejo, na aguarela, a janela de uma sala profusamente iluminada, aberta para uma rua triste.
    Como nunca vivi em Paris, imagino o meu Alentejo de paredes brancas e ruas com laranjeiras de ambos os lados, numa noite de nuvens negras a ameaçar tormenta.
    Gostei da face real das palavras, mescladas com laivos de ilusão poética para dar cor ao poema.
    Quem não tem histórias que conta e reconta a si próprio num exercício exorcizante do passado?
    Esta sua fez-me lembrar uma minha, em que não chorei, fiz chorar, pela primeira e única vez. Ainda hoje, quando penso nisso me dói. Como pode ser dura, egoista e injusta a mocidade...Enfim, lembranças.
    Quanto à Elis, creio bem que tudo nela foi sempre um lamento sem fim. Por isso, a vida se lhe tornou insustentável.

    Um abraço

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    1. Surpreender-me o que viu na imagem.
      A grande inversão no nosso pensamento dá-se quando a fantasia passa a controlar a realidade, então chega a confundir-se o que não é com o que realmente foi. A crueldade também tem um lugar dentro de nós, incontrolável em certos momentos se algo nos levar a isso. Analizar esses momentos à luz dos tempos de hoje falseia um juízo justo.
      Obrigado, um abraço.

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  4. Vejo na aguarela, uma lágrima que cai, sobre a ilusão de uma casa acolhedora.
    O poema é um lamento, por a história não ter um final feliz.
    Assim como não foi feliz, o final que a Elis Regina deu à sua vida.

    Um abraço, fique bem e obrigada !

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    1. O seu comentário é, de facto, a motivação do escrito de hoje.
      Obrigado, um abraço.

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