Ao meio-dia
Sou um homem que diz palavras
mas em muitas palavras que digo
não acredito nem um pouco.
Nas que digo com convicção
navego no caos das ideias
como convém no tempo
do cataclismo anunciado.
Sou um homem que diz palavras
e as palavras que penso e digo
fazem crescer a vertigem
da contínua e ilusória
domesticação do tempo
digo lírio
digo luz
digo pele
digo pânico
digo maré
digo mel
digo tédio
digo triste
digo fogo
digo febre
-------------
digo noite.
Ao meio-dia desperto com a dúvida
sobre a palavra seguinte
à meia-noite deito-me com ela
numa sucessão perpétua de mais palavras
nesta insónia
insólita,
absurda,
decadente
encho sacos de seixos e de ideias.
A meio da noite digo simplesmente que aguarela é maravilhosa.
ResponderEliminarA imagem sufocou o texto.
Eliminarhay palabras de tristeza y desesperación y hay palabras de esperanza y de sentimientos...en una noche de insomnio todo puede ocurrir.
ResponderEliminarBesos
Hay noches de insomnio que propician la revisión involuntaria de momentos de nuestra vida. Un abrazo.
EliminarO homem que aqui se descreve como um 'diseur' de palavras fingidas e de muitas outras em que acredita convictamente,
ResponderEliminaré um homem que nunca chegamos a conhecer bem, porque jamais se dá a conhecer.
Creio que é nessa singular particularidade que reside o seu peculiar fascínio.
A invulgar e belíssima Aguarela-Vitral (fica desde já assim por mim baptizada) só é comparável, em beleza e deslumbramento, às três Luas que se podem ver das três janelas de sua casa: a Lua Amarela, a Lua Vermelha e a Lua Azul... :)
Bom Dia!
O início do seu comentário mostra como, verdadeiramente, nós somos aquilo que os outros pensam de nós e que vinga, mesmo, sobre o que pensamos de nós próprios.
EliminarInteressante que se lembre das Luas e as classifique de igual modo sendo tão diferentes. O título está muito bem achado.
Bom Dia!
Discordo.
ResponderEliminarSó somos o que os outros pensam de nós se quisermos
A isso chama se personalidade
A personalidade que julgamos ter nem sempre é a imagem que os outros têm de nós, julgo mesmo que esta constatação não carece de concordância ou discordância é um facto aceite por quem estuda estes assuntos.
EliminarLamento discordar mas julgo que se está a misturar "personalidade" com "avaliação feita por outrem".
ResponderEliminarSão coisas distintas.
Tem toda a razão. A sua observação põe o assunto no sítio certo.
EliminarMuito Obrigado.
Palavras, palavras lembra-me uma cançao paroles paroles, da Dalida e Alain Delon, salvo erro.
ResponderEliminarmas estas palavras levam-nos também a outros trilhos e como sempre bastante criativos, assim achei o poema, que faz um suporte fantástico com a excelente aguarela.
Bom fim de semana.
Caro Poeta deixo um abraço sem palavras
;)
Palavras que podem iniciar caminhos de pensamento.
EliminarUm abraço.
Voltei e reli tudo.
ResponderEliminarDetive, demoradamente, a minha atenção nas palavras que o autor diz e pensa, que são coisas tão diferentes como diferentes são a real personalidade de alguém e a avalição que possa ser feita desse alguém, mediante aquilo que a pessoa vai deixando de si transparecer.
Assim, cheguei à conclusão, relativamente ao texto - já que quanto à imagem não arredo pé, - de que na 'domesticação' das palavras é assim:
Quem diz Lírio, diz Luz: Olhai os lírios do campo, eles não trabalham nem fiam, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
Quem diz Pele, diz Pânico: Será que ao tocar a pele de alguém, que não Ela, não ficarei tão preso ao passado que o pânico me deixará paralisado?
Quem diz Maré, diz Mel: Ah...como anseio por novos dias em que, deitado na areia, numa maré vasante, eu re)descobrir o mel que há numa boca de (outra)mulher
Quem diz Tédio, diz Triste: O tédio destes meus longos dias, fazem com que o meu sorriso (adiado) seja infinitamente triste.
Quem diz Fogo, diz Febre: Querida, o fogo da nossa paixão foi extinto, mas...a minha febre continua...
Agora, resta-me esta Noite imensa em que espero, em insónia permanente, pelo meio- dia, em que despertarei envolto na mesma dúvida doentia...
...encho o meu saco com novas ideias, ou de seixos polidos, quais pedras preciosas cobertos de finas areias?
Sorry...
Vou tomar um ☕ . Acompanha-me?
Só posso agradecer a atenção com que lê e observa as minhas publicações. Diria mesmo, que o que diz, ultrapassa o mero comentário, é um estudo aprofundado das minhas palavras, apresentando curiosas explicações para o que está escrito. Gostei da relação que estabeleceu com as palavras.
EliminarAproveite o seu café.
Caro, Luís Rodrigues, eu não sou uma mera comentadora. Em cada visita que faço a um espaço criado por outrém, deixo um pouco de mim, numa retribuição àquilo que o autor de si lá deixou. Isso de passar a correr e dizer: gostei, é bonito, e na maioria das vees nem sequer leram ou viram os vídeos que publicamos, não é comigo.
EliminarHouve um bloguer que, antes de si e há muitos anos, disse para uma outra conceituada bloguer: " A Janita vai muito além do simples comentário". Na altura, achei aquilo como uma crítica negativa e, provavelmente, nem seria.
Agora, aquilo que me diz, até me soa a elogio...
Agradeço, mas vou dar por encerrada esta minha ocupação de um tempo de férias sem ir de férias...
Nos próximos dias darei tempo de antena - por aqui - a outras e melhores vozes.
Continuarei a ler, claro.
O meu comentário ao seu comentário foi com um sentido positivo, reconhecido pela atenção prestada às publicações.
EliminarAguardo o seu regresso de férias.
Já passei por uma fase assim
ResponderEliminarTambém era um homem que dizia palavras
e as palavras que pensava e dizia
faziam crescer a vertigem
a contínua e ilusória
domesticação do tempo
Dizia todas essas
que dizes
ser teu dizer
numa sucessão perpétua de mais palavras
nessa insónia
insólita,
absurda,
decadente
Até que se deu o clique
Precisava de juntar às palavras gestos
Peguei no saco de seixos
e construí a estrada por onde agora caminho
Peguei no saco de ideias
e delas fiz as bandeiras que agora ergo
Quer isso dizer que, antes de mim, já esse caminho tinha sido descoberto. Há sempre alguém antes de nós.
EliminarAh...o que eu invejo essa sua fleuma britânica. 👍
EliminarObrigado.
EliminarCuidado, sejamos rigorosos. Eu não referi descobrir caminhos, mas construí-los... Se os construíste (ou ajudaste na construção) aceita as minhas públicas desculpas!
EliminarMal ou bem, mais ou menos valiosos, todos construímos caminhos ao longo da nossa vida. Não há lugar a pedido de desculpas, o diálogo faz parte da construção do caminho.
EliminarIsso!
EliminarAdorei a tela. O poema li e reli e não me atrevo a comentar porque mão quieta não escreve asneira.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
Achei muita piada ao seu comentário. Obrigado por ter gostado da imagem.
EliminarSaúde, um abraço.
Gosto de vir ver suas aquarelas, sempre distintas
ResponderEliminar_ tenho a honra de ter uma comigo.
Obrigada sempre .
Quanto as palavras com elas que comunicamos e são tão fortes, tão amplas e tão profundas
e os poetas com suas 'licenças-poéticas' usa-as da forma que os inspiram rs
_não me atrevo a traduzir ao pé da letra os poetas. rs
Meu abraço e muito bom as falas dos amigos que sempre acrescenta mais valor a postagem.
Bom domingo L
Agradeço o seu simpático comentário e o valor que atribui às minhas aguarelas. Estou muito de acordo que os comentadores enriquecem as publicações e este espaço onde se estabelece diálogo.
EliminarBom domingo, um abraço.
Belíssimo poema, Luis!
ResponderEliminarSem mais palavras: adorei!
Das aguarelas... eu gosto sempre!
Beijo.
Obrigado pelo simpático comentário.
EliminarUm abraço.