Foto de Daniel Filipe Rodrigues


 

Uma visita sessenta anos depois


A casa da minha infância 

revejo-a. 

Porque se tornou tão pequena

desde que ficou sem mim? 

O cheiro, 

a luz que escorre das paredes, 

os sons

são desconhecidos, agora. 

A nespereira outrora tão alta

dar-me-ia os seus frutos à mão 

assim me reconhecesse. 

Ninguém sabe quem eu sou

nem a casa, 

nem a nespereira,

nem os que lá moram ___

___ nem o limoeiro 

que plantei a brincar. 

É a minha infância cercada

na minha memória. 

Este foi o meu tempo

este é o meu tempo. 

Estremeço. 


Venham ver! 

Só as andorinhas são as mesmas!





20 comentários:

  1. Embora o fim do poema seja muitíssimo poético. — NÃO acredito que as andorinhas sejam as mesmas.
    A fotografia tem parecenças com a entrada de uma piscina.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ninguém acredita que as andorinhas sejam as mesmas mas... talvez isso tenha algum significado.
      A foto é da marquise da velha casa.

      Eliminar

    2. As andorinhas podem ser as mesmas passados sessenta anos... se forem as andorinhas de Bordallo.

      Eliminar
  2. Só a nossa infância, se calhar, consegue entender o que escrevemos hoje em dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Entender o que o poeta escreve é uma coisa.
      Sentir o que o poeta escreve é uma outra coisa.

      Eliminar
    2. A minha resposta é para os dois comentários.

      Eliminar

  3. Ainda revisito (embora cada vez menos assiduamente) a casa da minha infância. Agora está completamente silenciosa e já me dói lá ir.
    Os limoeiros continuam lá, ainda me dão limões à mão... mas já não sei se me reconhecem.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Todos temos casas no nosso passado, sorte os que plantaram limoeiros, ficarão depois de nós.

      Eliminar
  4. A dimensão da casa parece que encolheu com o passar dos anos? Também me aconteceu o mesmo ao visitar a casa onde nasci. Encontrei-me nestas palavras que escreveu. Tão belas!
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tudo no nosso passado parecia de uma dimensão maior. Não sei será boa ideia voltar a esses lugares.
      Obrigado. Um abraço.

      Eliminar
  5. Encontrei no poema desta noite, a casa da minha avó materna, com a qual sonhei toda a noite.
    A casa da minha avó materna não era tão majestosa como a casa dos meus avós paternos.
    Era uma casa cheia de histórias 📚

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mesmo muitos anos depois somos capazes de recordar toda a estrutura da casa da nossa infância... e algumas histórias.

      Eliminar
  6. Vejo desalento nas palavras e desolação na imagem.
    Quem influenciou quem, não sei.

    Quanto às andorinhas, que passados sessenta anos continuam por lá, se não forem ESTAS de cerâmica, criadas pelo mesmo criador do "Zé Povinho", dispostas em voo, numa parede branca do quintal ou da marquise, só poderão ser as pequenas aves negras migratórias, representativas da saudade do menino que lá ficou...

    Há um pormenor que me chamou a atenção, a luz acesa... Se mora lá gente, porquê esta estranha sensação de vazio que a imagem nos passa?

    Tenha uma boa semana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É sempre um desalento o confronto com os lugares da infância, a destruição das nossas memórias como elas eram. Achei a segunda interpretação da referência às andorinhas no meu texto, muito interessante e nostálgica, como se quer, nesta situação.
      Lá moram apenas... os fantasmas.
      Boa semana também para si. Obrigado.

      Eliminar
  7. Infelizmente, quem mora na cidade não tem recordações dessas. A lembrança das coisas que nos rodeiam, às vezes traz-nos a tristeza. Foram tempos de felicidade e de magia, do nosso crescimento, onde tudo era beleza e novidade. As árvores, os pássaros, aquela Natureza que durante a infância gostamos e respeitamos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sempre vivi na cidade, em Lisboa, e tenho recordações das casas da minha infância.

      Eliminar
  8. Também recordo a casa da minha infância.
    Mas a casa mudou!
    E nós todos tambem mudamos.
    É um facto!
    :)

    ResponderEliminar