Todas as mulheres são Angela
Mesmo que a tua silhueta cujas feições se perderam,
me caia no escuro dos sonhos, sempre igual, sei que és tu.
Todas as mulheres são a mesma mulher
e todas começam e acabam em ti, Ângela.
Não mais do que uma vida
em tantas viagens futuras sem sair do teu passado.
O teu corpo agora diferente, depois de tanto caminho
é o mesmo sendo outro.
Recordo-te nos teus passos, ao fim de uma tarde longínqua,
junto à margem do lago que já não existe,
a minha timidez transformada em ousadia abraçou-te com palavras,
disseste que sim e desde logo um turbilhão
de luz escura raiou imparável.
Contigo nasceram igrejas, cemitérios, praias de promessas
como redutos da verdade que nunca sobreviveu à nova mentira.
Eu era para ti como uma ponte sobre as águas revoltas.
Não sei da tua existência, mas sei que não existes sem mim.
Na verdade nunca exististe, senão numa concepção irreal,
como eu, sendo aquele que te criou, também nunca existi.
Sou hoje o que permanece à tua sombra, no negrume que agora,
com o sol que várias vezes nasce no poente,
estende a tua silhueta sombria que perdurará
até à chegada da primeira e única noite.
Sempre voltas, sendo tu és uma outra
com quem consumo dias do tempo que me resta.
Desde sempre desejei dormir com a cabeça no teu colo
porque a mulher nossa amante pode também ser nossa mãe.
Morrerás no dia que for escolhido
como o dia em que deixarei de vomitar
textos desirmanados e imagens desiguais.
Todas as mulheres vivem em ti, continuas em cada uma
em todas renasces em todas te confundes
em mais uma e em mais outra, até depois.
Dos vestígios que deixaste,
nem retratos, nem sombras, nem recordações
ninguém sabe quem tu foste porque afinal até eu já te esqueci
até eu já me esqueci.
O POEMA que mais gostei de ler nos últimos dias.
ResponderEliminarIsso é um estímulo.
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EliminarEu diria melhor, o poema que mais gostei de ler de todos os que lhe li.
Parabéns Luís!
Acho que hoje chamar-lhe pintor/poeta ou poeta/pintor não faz qualquer diferença.
Agradeço o incentivo, dá para adormecer hoje mais tranquilo.
EliminarNão será o melhor poema que li em toda a minha vida, mas um dos melhores.
EliminarHoje a minha vaidade fica em alta.
EliminarTranquilidade é para os burgueses, não para os poetas.
EliminarA POESIA tem sede de àguas revoltadas.
Isso é totalmente verdade mas, os poetas também dormem e... sonham acordados.
Eliminarhehehehe
EliminarAmiga, acho que o autor vai ter uma apoplexia... e amanhã vira "paté"! 😆
Acompanho o seu blogue desde o início, certo que não vi todas as suas publicações mas... para mim este texto é o que mais gostei de todos os que li aqui no Brancas Nuvens Negras.
Grande responsabilidade, ter de manter o nível.
EliminarClaro que sou a TERESA PALMIRA HOFFBAUER, mas NÃO me encontro em casa.
EliminarBoa noite, Clara.
Boa noite, Luis ‼
Obrigada! 😊
EliminarBoa noite e bom fim de semana.
Boa noite.
EliminarA silhueta da Angela que vemos na aguarela é simplesmente divina.
ResponderEliminarIsso é mais um estímulo.
EliminarUma homenagem que não se percebe se real se ficcional
ResponderEliminarDe tão longínqua já nem o autor tem a certeza.
EliminarNem comento
ResponderEliminarpara não quebrar o encanto
O autor agradece a consideração.
EliminarBelissimo poema, em que uma boa parte se inspira na não menos bela canção deste duo admirável.
ResponderEliminarTão novinhos que o Paul Simon e o Art Garfunkel eram aqui...
Creio nunca ter lido antes um poema tão romântico e tão completo como este. Muito bonito.
A frase "Eu era para ti como uma ponte sobre as águas revoltas", passa-nos uma imagem simplesmente enternecedora.
Está o autor de parabéns!
O mesmo não digo da aguarela. Lamento!
Aquelas pernas compridas, do desenho representativo da tal Ângela, só me lembram uma boneca de pano que a minha filha teve.
A boneca tinha um nome que agora não me ocorre, mas era o de uma personagem da série americana "Casei com uma Feiticeira".
Se amanhã me lembrar, digo-lhe...
É um prazer ter unanimidade na apreciação do que ficou hoje aqui escrito e publicado. Tenho a agradecer o seu comentário positivo e simpático.
EliminarBoa Noite, obrigado.
...ou então, as pernas representam a ponte...isto para terminar o meu raciocínio.
EliminarBoa noite!
É importante que, ainda assim, a imagem lhe sugira algo.
EliminarObrigado, Boa noite.
Curioso é que somente uma leitora fale de "Bridge Over Troubled Water" tão relevante no poema e de enorme importância para o POETA.
ResponderEliminarOs pontos sensíveis não são os mesmos em todos os leitores.
EliminarUm grande momento de inspiração!
ResponderEliminarComo mulher ,agradeço.
É tão terno e amoroso que a vontade é sentir-se como 'Angela'
Orgulhe-se mesmo_ e a aquarela sempre gosto, sem precisar interpretar o poeta que a pintou.
meu abraço
Um comentário muito simpático o seu. Só tenho a agradecer-lhe as palavras elogiosas e deixar o meu texto de hoje como uma abrangente dedicatória
EliminarUm abraço.
Caro Poeta
ResponderEliminarUm poema divinal.
Também me senti um pouco "Angela"
Gostei bastante!
Abraço
:)
Quase uma homenagem. Muito obrigado pelas suas palavras.
EliminarUm abraço.
Um belo Poema.
ResponderEliminarMuito obrigada.
( as águas eram quentes, seguramente...)