Eu e o outro eu


Há uma diferença 

na voz, 

outro sabor nas palavras

entre o eu quando fala

e o outro eu quando pensa. 

O que fala, 

quando fala

é um cidadão ao fim da tarde

preenchendo clareiras

com passos metódicos. 

O outro

é um acanhado pensador

vestido de rimas

                          anacrónicas. 


Não há nudez que me valha

que dispa o meu pensamento

há sempre algo simbolista

a conter

um certo arrebatamento. 

Consigo apenas dizer:

ninguém me vai obrigar

a desarrumar agora

o resto da minha vida!



 

 

18 comentários:

  1. A nudez auxilia sempre a nossa racionalidade

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  2. Nunca o autor escreveu nada que estivesse tão de acordo com frase que encima o cabeçalho.
    Esses dois 'Eu', o que pensa e o que fala.
    Tanto que este texto diz de si, Luís, tanto...
    Quem por aqui passa diariamente, e o acompanha nos seus escritos, sabe que nenhuma destas palavras foi escrita de ânimo leve.
    Não se acanhe. meu amigo, fale tudo o que lhe vai na alma, nada do que pensa e diz é anacrónico.
    Se quiser...se não, fique calado. A sua vida e os seus actos, pertencem-lhe!!

    Quanto à "nudez", não se "dispa" se isso o violenta.
    Tome nas mãos as rédeas da sua vida. Não permita que ninguém, por mais forte e convencida da verdade que seja, o leve a 'desarrumar' o caminho que traçou...

    Gostaria muito que entendesse este comentário, da mesma forma que eu penso ter entendido as suas palavras.

    Um abraço.
    Bom sábado. Sorria. :)

    ( O dia está lindo, apesar de ser de luto )

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    1. A minha resposta será curta.
      Sensibilizou-me o seu comentário, o suficiente para ler e reler o que eu próprio escrevi.
      Muito Obrigado, um abraço também.

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  3. O “eu lírico nunca é o mesmo do “eu” do homem que gosta de sopa.
    No seu caso, Luís, a sintonia é perfeita.

    Ontem à noite, matei a minha pobre cabeça para decifrar a aguarela.
    Saí vencida como os americanos do Afeganistão.

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    1. Por acaso gosto muito de sopa.
      A aguarela acho que tem os elementos em contraponto que talvez suscitem uma interpretação. Mas cada um constrói um pensamento a partir do que vê.

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    2. Claro que gosta de sopa, por isso é que a mencionei.
      Continuo a olhar para a aguarela e vejo uma mulher a arder de desejo.
      ABSURDO o meu pensamento.
      Ou talvez não.
      Será essa mulher que quer desarrumar o resto da sua vida?
      O “eu lírico” luta e o outro “eu” continua tranquilo a comer a sua sopa.

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    3. Ao lado há uma igreja com a cobertura em mau estado.

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    4. Vejo o telhado negro da igreja.
      Se só fossem os telhados das igrejas de todo mundo em mau estado, mas não, a IGREJA CATÓLICA está absolutamente carunchosa.

      Aproveite os últimos dias de verão 🌻

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  4. Depois de ler e reler tudo, incluindo os comentários, com atenção que merecem, fiquei sem saber o que comentar...
    portanto, faço minhas, se me permitem, as palavras da Janita.


    Um abraço comovido!

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  5. Desculpem, fiquei tão perturbada e surpreendida que cometi um erro crasso de ortografia.

    Obrigada Fê, fiquei feliz e honrada por as minhas palavras sentidas, terem encontrado eco na tua alma sensível.

    Um beijinho, duplamente grato.

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  6. Foi apenas mais um deslumbre de um dos seus " Eus".
    Se desarruma-se a Vida, terminava o fascínio! ��

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  7. Um auto-retrato e um desenho com número que poderão indicar anos (?!).

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