Falta de memória ___

___ de mim


Respeito 

o pó dos meus livros 

as minhas roupas velhas 

as fotografias antigas 

as memórias dos meus filhos 

     no primeiro dente 

     na madeixa de cabelo 

a minha primeira caixa de aguarelas 

as cartas antigas de outros sonhos 

as boas memórias 

     mas também as más 

a Rádio Clássica de Espanha. 


Respeito 

a minha língua 

a minha música 

a minha respiração. 

Tudo se revela de novo 

na minha memória 

mas já não me lembro 

que idade tenho.



 

20 comentários:

  1. Curioso o desfecho do poema, pensando bem, com um toque filósofo.
    A aguarela linda como a madeixa de cabelo da menina.

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  2. Curiosíssimo, sem dúvida, é o facto de nos diluirmos tanto e tão profundamente nas pequenas/grandes coisas que respeitamos/amamos...

    São tocantemente belos, o poema e a aguarela, L.

    Forte abraço!

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    1. As coisas que ficam e suportam a nossa memória.
      Saúde, um abraço.

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  3. Respeito
    tudo o que dizes
    respeitar
    Respeito ainda
    a Conservatória do Registo Civil
    mas não consulto o resultado
    do seu trabalho

    Sei a minha idade por sentimento
    Hoje senti-me jovem
    Ontem, por acaso
    senti-me septuagenário

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    1. Ora somos novos, ora somos velhos, isso é o sintoma de que já não somos novos. Faz-me lembrar aquelas pessoas que dizem "não sou de esquerda nem de direita" de um modo geral são de direita.

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  4. Compreendo tudo o que diz respeitar, porque também respeito - e estimo - as minhas boas memórias, os meus 'trapos antigos' - tão antigos que chegam a estar de novo na moda - as minhas fotos antigas. Minhas, dos meus ascendentes e descendentes e de de todos os amigos/as que um dia me fizeram viver momentos inesquecíveis. Fico por aqui, pois o rol seria imenso...

    Para que páre de falar de mim e me remeta ao papel de comentadora, remato este comentário, firmando e afirmando, todo o meu profundo Respeito por si e por tudo o que escreve. Muito obrigada, caro Amigo Luís Rodrigues.

    Um abraço.

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    1. É um gosto constatar a sua identificação com o que hoje publiquei.
      Quanto à parte final do seu comentário, digo:
      Há dias assim em que um pequeno elogio relança a boa disposição e aplaca os pequenos temporais, inúteis, que por vezes adensam os nossos dias já cinzentos.
      Agradeço a gentileza cara Amiga Janita.
      Um abraço.

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  5. Parece que o Blogger já me anda a boicotar de novo. Mas que mal fiz eu a esta gente??

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  6. Muito belo, todo o poema e adorei o final.
    Porque, a idade é apenas um número.
    Beijo
    :)

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    1. A idade é um número que pode ser longo e... pesado.
      Um abraço.

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    2. sim é verdade, mas podemos sempre fazer que nos pareça mais leve.

      acho eu :(

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    3. Podemos sim, mas por vezes esses pensamentos chegam-nos.

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  7. Tema sério...
    Vivamos intensamente, enquanto lembramos quem somos.
    Faltas de memória, quem não tem?!
    Beijo.

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  8. Todo se queda en el recuerdo, en donde no se puede olvidar.

    Besos

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    1. Tenemos las reservas de la historia de nuestra vida en nuestra memoria. Un abrazo.

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