Foto do autor do texto




 
Ouço-te

-Deixa-me contar-te uma coisa

disseste


medi a importância momentânea 

da tua entrega e disse

sim! 

com um gesto e um sorriso


-Quero deitar-me na soleira da minha casa

quero impedir a entrada

do que resta de mim ___ 

___ da minha consciência, é que

ouço a minha mãe dizer

vai beijar o teu pai que já chegou 


compreendo! 

disse eu


-Mas a minha mãe ignora a morte do meu pai

e ela está morta também

Tudo o que não esqueço me aflige 

disseste


Limpo a soleira da tua porta

nela faço uma cama emergencial

e digo-te

-hoje durmo contigo!



 

30 comentários:

  1. Ouves
    nem importa a quem
    Ouves
    e contas
    não importa o quê
    Dizes
    por gestos
    que teus pais partiram
    e
    te dispões a dormir com alguém
    não importa saber quem

    O que perturba
    é a imagem
    de porta e janela
    como se fossem grades
    vulneráveis

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    1. Dizes bem, há uma altura em que já não importa onde, nem o quê, nem com quem.

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  2. Um clima de pesar se instalou aqui.
    A fotografia é linda e alegre.

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  3. Novo excelente complemento entre foto e texto

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  4. Li e reli, voltei a ler e apreciei a porta e não sei porquê fixei-me na grelha lateral. Com este tempinho que me ocupou a mente e com a sensação de uma certa angústia, fui buscar algo que escreveste no mesmo dia e mês mas em 2021:

    "Um dia e depois outro

    Chegamos ao fim de mais um dia
    em que as noites repousam
    sobre as nossas inquietações.
    Só quem está sozinho sabe
    que o som de um estalido
    um som do nosso corpo
    são alertas onde não há nada
    apenas uma pequena luz
    para que as sombras
    não fiquem na escuridão.
    Tenho um pacto com o silêncio
    nem eu o acordo
    nem ele me assusta.
    Durmo com um seixo em cada mão
    como um amuleto."

    Tens uma sensibilidade grande mas existem coisas do passado por resolver num denominador comum em muita coisa que escreves.

    PS: Sempre que entro num blogue começo a ler desde o início e vou anotando num caderno o que me tocou mais. Se gostar fico e só depois é que começo a comentar. É o caso!


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    1. Primeiro quero agradecer essa atenção tão cuidada às minhas publicações e também os comentários tão plenos de profundidade.
      É curiosa essa coincidência entre esses dois textos, estou certo de que muitos mais afloram esse tema. Sim, estou de acordo que há coisas do passado que continuam latentes, as principais consigo perceber em mim próprio (acho que acontece com todos nós) quais são, aliás, depois de dois anos a publicar aqui os meus textos, acho que aos poucos me fui revelando, embora a ficção também tenha aqui a sua dose, muitas vezes para se dizerem coisas que não se podem assumir claramente.
      Agradeço este diálogo diário que, no fundo, vai alimentando este espaço.
      Um abraço.

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    2. Claro que todos e todas que escrevem o escrevem põem sempre uma dose de ficção o que entendo e respeito e nunca em tempo algum faço perguntas da vida particular de quem aqui visito e nem sequer o nome e o teu será sempre o título deste teu espaço:)
      Já o meu era como o meu pai me chamava porque mal nascíamos ele dava uma alcunha:))))
      Fica bem e xiiiii nem dei pelo tempo passar vou fazer o almoço! Como se diz na minha terra:
      Inté

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  5. Tanto a fotografia de hoje quanto a de ontem, me lembram o enclausuramento, do corpo ou da alma.
    Talvez da própria consciência, até. E vá lá saber-se o porquê, sinto em si um grande sofrimento.
    Algo que não sei explicar e me faz sentir perto daqui, do seu espaço.
    Se há alguém que não merece viver nessa clausura impiedosa, é o autor deste espaço.

    Deixo o meu abraço sincero.

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    1. Todos nós estamos encarcerados, ou no nosso corpo, ou no nosso tempo, ou no nosso espaço, ou na nossa insatisfação mas por vezes não damos conta disso.
      No entanto esvoaço espiritualmente e encontro outras aves por aqui.
      Obrigado, um abraço.

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    2. E se voar mais longe, poderá até encontrar aves de rapina.
      Nos céus, não voam só Anjos e pombas brancas...

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  6. Ah, L., tudo o que não esqueço, tudo MESMO, é, mais tarde ou mais cedo, reciclado e usado como matéria-prima para os meus poemas...

    Mas deveria estar a falar dessa sua magnífica porta, dos seus ouvidos prontos a escutarem seja quem for, das suas mãos atarefadas que estendem uma cama "emergencial" na soleira da porta das angústias de alguém...

    Forte abraço!

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    1. Estou muito atento aos outros, ao mundo e ao seu fervilhar e a mim também, na medida em que somos juízes em causa própria.
      Obrigado
      Um abraço

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    2. Faço minhas as palavras da Maria João.
      Não me canso de olhar para a porta que é linda de morrer.
      Altruísta é o poeta que faz uma cama de emergência na soleira limpa da porta … cuidado com as aves de rapina 🦅

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    3. Nada quebrará a disposição do autor em esvoaçar por entre as aves que aqui passam entre as brancas nuvens negras, não vislumbro aves atacantes que toldem o clima poético que por aqui vai.

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    4. Cheguei agora a casa 🏡 divertida e leve e apeteceu-me brincar 🦩

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  7. Me sigue gustando, que pongas fotos de tu autoría.

    Besos

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    1. Siempre que tengo algunos adecuados los publico. Gracias por la referencia. Un abrazo.

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  8. Um poema que ilustra a dor que a alma encerra, e que a mente se manifesta, de uma forma veemente e dolorosa.

    Muito Obrigado, pela visita e gentil comentário no meu cantinho.

    Continuação de boa semana.

    Abraço.

    Mário Margaride

    http://poesiaaquiesta.blogspot.com

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    1. Obrigado pela gentileza da visita. Voltarei ao seu espaço
      Um abraço.

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  9. MAGNÍFICO, poema e foto!
    Deixemos voar o pensamento, enquanto podemos.
    Beijo.

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  10. Maravilhas poema e imagem. O poema tocou-me a alma de forma especial. Tão lindo.
    Beijo carinhoso

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  11. A foto em sintonia com o poema.
    surrealismo puro, mas acabou tão bem.
    gostei bastante.

    :)

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