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Os dias que se extinguem

Era Setembro 
os dias que ficavam acesos extinguiam-se 
o tempo não existia ainda 
tínhamos pouco mais que 20 anos 
longos cabelos e peles lisas e rosadas 
os dias que ficavam acesos extinguiam-se
mas isso pouco importava 
o tempo não existia ainda
amava-se entre duas ondas numa ida à praia 
amava-se como no filme no escuro do cinema
amava-se como se os dias só pudessem 
ser ocupados assim na troca das mãos. 
Era Setembro 
os dias que ficavam acesos extinguiam-se 
mas isso pouco importava 
o tempo não existia ainda 
até ao dia em que o verão chegaria ao fim 
isso sim era preocupante 
a vida teria um intervalo um enorme intervalo 
depois do último verão 
em que as mãos que ficassem acesas 
se extinguiriam e isso era o que importava 
o tempo já existia então. 

É Setembro aqui 
os dias que ficaram acesos extinguiram-se 
as mãos que ficaram acesas extinguiram-se 
o amor tal como o conhecemos 
perdeu-se num grande intervalo. 
É Setembro aqui 
os dias estão agora sempre acesos 
as mãos são agora sempre as mesmas 
muito velhas com falta de memória 
preocupadas em não deixar extinguir os dias 
ainda acesos como se estes
só pudessem ser ocupados 
nessa troca de dias por outros dias. 
É Setembro aqui 
e nada me leva a pensar 
que o intervalo depois do amor vai acabar 
e que os dias que ficaram acesos 
não se extinguirão
mas isso pouco importará 
porque o tempo vai deixar de existir 
outra vez.



23 comentários:

  1. Revi-me nas tuas palavras! Mas atenção ao que vou dizer:
    Os amores e juventude pela qual já passámos mas na minha terra eram mais prolongados porque são 9 meses de Verão e 3 de cacimbo. Foram bons muito bons e há que recordar com saudade positiva porque não adianta nada ser negativo. Olho para a foto e fiquei encantada e revi-me sentada ao contrário para mirar a natureza e com três amigos que eram a minha sombra sentados nas costas do banco. 4 cromos que plantávamos a "manta" e sempre atentos aos malditos "bufos e pidescos". Acreditávamos que a guerra então só nas matas iria acabar por vermos tantos jovens soldados vindos da "metrópole" pura "carne para canhão". Cumprimentavam-nos e eu sempre alegre dizia-lhes se quiserem podem assentar-se e os 4 cromos animavam quem parecia mais abatido. Momentos iguais e de recordar no cinema, e na praia o meu grupo parecia que tinha mel porque outros tantos e tantos se juntavam aos mergulhos, à música e dança "brinca na areia" e a partilha da merenda!
    Hoje sei que sou velha mas continuo a mesma irreverente/solidária, quebra regras e positiva, despacho o teu Setembro tão triste e ponho-te a medalha de Junho porque o calor aquece os neurónios de quem é tão nostálgico.
    O que escrevi longe de ser uma "lição de moral" e ou querer desacreditar no que sentes porque respeito e muito o sentir dos outros.
    Força e volto a dizer que maravilha de foto com imensa luz, beleza e saio daqui melhor do que quando entrei. Obrigado!
    Beijos e um bom dia

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    1. Interessante como o texto de hoje originou esse desfiar de recordações.
      É um prazer para o autor essa última frase do comentário.
      Obrigado, um abraço.

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  2. Fosse eu poeta
    e escreveria um poema assim
    tendo
    por referência
    o meu Setembro

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  3. Que extraordinário poema, L.!

    O meu amor de Setembro começou quando eu tinha 14 anos e embora a convivência física se tenha tornado impossível 25 anos depois, creio que só terminará quando o tempo voltar a deixar de existir para mim.

    Um forte abraço!

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    1. Os Setembros, uns claros outros mais sombrios.
      Obrigado, um abraço.

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  4. La fogocidad de la juventud, ya no puede volver. pero nunca se puede acabar la capacidad de amar.

    Besos

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  5. Em vez de visitar Portugal
    Fui parar ao hospital
    com uma pleurisia
    Desta vez, explico a minha ausência para não haver mal-entendidos!!

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    1. Notei a ausência. Quero desejar-lhe as melhoras, agora é repouso e medicamentos.

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  6. Luis, que beleza de imagem e poema.
    Dei por mim a recordar Setembros vividos num tempo com muito tempo dentro.
    Beijo.

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    1. Algum Setembro nos deixou memórias, quem me leu acabou por se recordar.
      Um abraço.

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  7. No final de cada Verão, todos os lugares nos parecem vazios de alegria e cor.
    Essa é uma sensação generalizada, sobretudo entre a faixa etária mais jovem. Se não agora, no tempo da nossa juventudo.

    "Quand vient la fin de l'été" e com a canção tudo se extinguia.
    Bons tempos, em que os nossos corações eram corações de verdade!

    Um abraço

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    1. Recordações comuns a todos.
      Os nossos corações ainda são de verdade.
      Obrigado, um abraço.

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  8. Poema tão belo como o mês de Setembro __
    Lembrei um fim de tarde de Setembro em Londres.

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    1. Este texto tocou a sensibilidade dos leitores. Missão cumprida.

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    2. POEMA expressivo que muitíssimo me agradou.
      Enquanto que o acontecimento em Londres foi amoroso e borbulhante como o champanhe 🥂

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  9. Amei este poema, sem dúvida um poema magnifico!

    Tenha uma ótima noite. Beijinhos

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    1. Agradeço muito a sua já habitual visita e as suas palavras.
      Boa Noite também para si. Um abraço.

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  10. Setembro é o meu mês, pois foi o mês que nasci.
    Este poema fala das memórias do Poeta ou não, mas Setembro lembra sempre o fim das férias e o fim de muita coisa.
    Excelente poema, gostei imenso.
    Continuação de boa semana, caro Poeta/Pintor.
    Um Beijo.
    :)

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