Sempre igual
Todos os dias aguardo a chegada da noite
a hora em que os sons domésticos
são a banda sonora do tempo de espera
do que não vem ___
___ como se Godot e a espera
se representassem aqui ___
___ sou o actor e o meu público.
Vivo devagar até que os sons se extingam
os projectores se apaguem.
Mato-me pela noite dentro até nascer de novo
o dia espera por mim
a noite inquieta-me
é o exílio no seu estado final.
O tom amarelo da aguarela suaviza a negrume com manchas de sangue de ambos os lados.
ResponderEliminarBons tempos em que eu esperava por Godot nas salas dos teatros.
Mas algo corre mal. Muito mal.
A noite, escura para quem espera.
EliminarAlgo corre mal mas terá um desenlace.
Um desenlace nuclear ☢️
EliminarEsperemos que não.
EliminarRéplica:
ResponderEliminarVivo num lufa-lufa até que os sons se harmonizem
e os projectores se alegrem.
Vou renascendo pela noite dentro até nascer de novo
o dia espera por mim
a noite inspira-me
é um ressuscitar
um regresso ao estado inicial
inteiro e limpo
Nem todos os percursos, os temores, os remorsos, as desilusões são iguais para todos.
EliminarUm excelente complemento entre imagem e texto
ResponderEliminarMuito obrigado.
EliminarPenso que vou fazer figura de palerma, mas direi o que me invadiu a mente mal vi a aguarela: "Olha, a Excalibur!"
ResponderEliminarPronto, já fiz figura de palerma e continuarei a fazê-la porque me ocorre ser um privilégio viver-se devagar nos tempos que correm (voam, e a jacto)
No entanto, este poema toca-me profundamente e, sim, aproximamo-nos do derradeiro exílio, L.
Forte abraço!
Achei muita graça ao início do seu comentário. Não me ocorreu esse significado quando da execução dessa imagem, mas compreendo que aquela "casa" possa parecer a ponta da espada que refere.
EliminarFico satisfeito quando os meus textos lhe agradam.
Um abraço.
Este poema deu-me a volta à cabeça e começando pela foto vi uma panela de pressão meia submersa pronta a explodir. Depois as palavras tão bem escondidas emotivamente falando, que pensei nos sons domésticos mal caí a noite que neste prédio é por demais. 22h acabam o "batuque" e adormeço e seguem-se 7/8h seguidas e acordo completamente renovada e digo ôba mais um dia:) Fugi ao tema não foi?...pois mas já que falas em Godot(julgo ser um jogo) tentei o mesmo até porque:
ResponderEliminar" Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei para onde vou,
—Sei que não vou por aí!
José Régio
Não leves a mal com este espraiar de emoções!
Abraços e um bom dia
Os sons domésticos, nos apartamentos onde vivemos, são para alguns que estão sozinhos, os sons humanos mais próximos.
ResponderEliminar"À espera de Godot" peça de teatro de Samuel Becket, onde se espera por quem nunca vem.
O poema de José Régio é marcante na obra desse enorme poeta.
Gosto desse espraiar de emoções dos meus leitores, isso é um estímulo para continuar com este espaço.
Um abraço.
O lado absurdo da Vida é a certeza de que todos esperamos por algo sabendo que não vem. Mas, é essa espera que, a partir de uma certa altura, nos vai mantendo na expectativa. Ao amanhecer esperamos a noite e à noite adormecemos a pensar como será o novo dia.
ResponderEliminarEssa expectativa, tanto se pode chamar Godot, - porque Beckett assim o quis - como Felicidade ou até Esperança em algo que muito desejamos.
Creio que, no fundo, todos temos um Godot por quem esperar. Os sons e os cenários é que variam de palco para palco...
Bom comentário o seu. Todos esperamos alguma coisa, por vezes nem é outro alguém. Muitos esperam Deus, outros a vitória no campeonato, outros o dia em que terão um neto, etc., etc.
EliminarOs comentários dos nossos leitores são imprescindíveis para valorizar as publicações.
Eu agradeço e envio
um abraço.
O tempo mais importante que existe é o tempo de amar alguém de quem verdadeiramente gostamos... eu acho !
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=PMj6Ad0JngM
São os tempos que lembramos para sempre, o pior é quando acaba mal, a memória desse facto torna-se dolorosa.
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