A infância inacabada
Já fui em tempos uma criança a rezar
sozinha
temente
ou seja ____ abusada na sua inocência
por isso a minha infância
tem algo de inacabado
talvez as quatro estações que nunca
acabavamos de ouvir e sempre
voltavam ao princípio
ou a chuva num lago breve
no pátio da minha casa
ou o gato que se escapava
e um dia não voltou
ou os abraços maternos adiados
que se perderam
ou um pai que morreu três vezes
e que me matava de medo
ou um choro inquieto
sem uma planície onde o guardar
ou os açoites do poder
que nos ensinaram a mentir
Finda a infância já não me perguntam
de onde venho ___ onde vivi
perguntas a que não saberia responder
Aqui estou agora preparado
para concluir a infância
caindo nos braços de Satanás
como nos ensinaram
já que o Céu é para os que o inventaram.

Gosto da foto. Hoje o céu por aqui esteve assim. O poema intenso é mais um dos vários que já li neste blogue, que falam de uma infância negra negra, que nenhuma criança deveria ter. Deixam-me arrepiada estes seus poemas.
ResponderEliminarAbraço saúde e paz.
Realidades com dezenas de anos mas que ainda hoje existem.
EliminarAgradeço a franqueza do comentário.
Saúde, um abraço.
São estes regressos à infância, mesmo que propositadamente ficcionados, porém, onde se pressente muito de verdade, que me desconcertam completamente. Não gosto de pensar que ainda há muito do menino,que tão bem conhecemos de outras publicações, no homem de hoje.
ResponderEliminarNão gosto! Quero pensar que no seu interior cresceu um demónio demasiado racional e frio. Se pensar naquele menino de olhar triste, não consigo...
Boa noite
A ficção é, muitas vezes, uma forma de falar de realidades conhecidas, pessoais ou não, mas que todos sabemos que existem.
EliminarObrigado. Boa noite.
Sorte a tua
ResponderEliminarcaíres nos braço de alguém!
Foi naqueles, poderia ter sido noutros.
EliminarA nossa infância tem o seu valor encontrado nos erros que não sabemos corrigir. Aí vemos o valor dela
ResponderEliminarAssim saibamos analisar as marcas que ficaram.
EliminarAs marcas que ficaram da infância do POETA foram hoje aqui analisadas de uma maneira muitíssimo sensível e poética.
ResponderEliminarEmbora tanto o POETA como eu não andemos nas nuvens, fotografar as nuvens dá prazer.
Uma caricia para o menino inocente e triste.
As marcas, falemos delas para nos libertarmos delas.
EliminarAs nuvens são sempre um lugar de inspiração.
Infâncias negras que marcaram gerações e que a maioria em adultos ainda carregam esse fardo. Uns pelas guerras, outros por muita precariedade, abusos etc, etc. Outros tantos tiveram colo e conseguiram atenuar essas marcas terríveis. Hoje os direitos da criança estão pela rua da amargura com os cenários que sabemos, mas também te digo que na educação das crianças e nos jovens adolescentes muitas vezes devem ouvir um "Não" e ou pagar pelos erros que cometem".
ResponderEliminarEnfim olho para a tua foto e sentada na nuvem com esperança e otimismo que não largo, miro e aprecio a humanidade e os seus podres e sobretudo na tua enorme dor ficcionada ou não, vejo que sofres e muito mas força porque já passou e Satanás são todos os galifões que se julgam superiores. Fico por aqui!
Beijos e um bom dia
Extenso, completo e apaziguador o teu comentário. A realidade, ficcionada ou não, que o texto de hoje trata, é compreendido pelos meus leitores. Fica como um grito, um queixume, um alerta.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Um poema que muito me tocou, L.
ResponderEliminarA minha doirada infância também foi marcada por negrumes desses. Quase me espanta que alguns dos da nossa geração se não tenham apercebido dos abutres que dia e noite rondavam as nossas casas...
Tive, contudo, a sorte de a ideia de Satanás ter passado por mim com a mesma ligeireza do trenó de renas do pai Natal, tal como a ideia de céu que, para além do que vejo, mais ou menos azul, mais ou menos nublado, não creio que venha a ser sequer uma prerrogativa para os que o inventaram.
Forte abraço!
Sei que há outros que sentem e viveram situações semelhantes à que o texto trata (ficcionadas ou não). Felizes os que não conheceram as agruras do crescimento.
EliminarObrigado, um abraço.
Una triste infncia, marca mucho cuando se llega a adulto. Aunque ya eres mayor, nunca encontrarás un explicación, de lo que ocurrió y por qué ocurrierón esos hechos que se produjeron en el pasado. El niño necesita ser criado en un entorno de cariño y educarse en un ambiente de paz. Los juegos también forma parte del aprendizaje y eos también los colmará de felicidad.
ResponderEliminarBesos
Las razones, en el pasado, fueron idénticas a las de su país, regímenes fascistas que moldearon la cabeza de los padres para que hubiera una extensión del dictador en cada casa, la ignorancia y la pobreza fueron las razones. Gracias, un abrazo.
EliminarBom dia Caro Poeta/pintor.
ResponderEliminarUm poema que me traz também várias reminiscências de infância que eu simplesmente, bloqueei, apaguei e não quero ter memória.
Mas, ficaram para todo o sempre.
Gostei da foto.
Desejo uma boa semana cheia de saúde e paz.
:)
Realidades comuns, afinal, a muitos leitores. Ainda hoje existem.
EliminarObrigado, um abraço.