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A minha nudez

Despi-me para mim próprio ___ 

___ no meu todo que conheço 


na contemplação das cicatrizes

compreendi o percurso do corpo 

as imensas colisões do meu corpo

os rasgões passajados

no peito as notícias do passado

no ventre a marca de várias fomes 


da fragilidade dos ossos 

nada pude apreciar

essa é a surpreendente 

resistência do oculto 

do alicerce osso mente ___ 

___ e tudo o mais vive 

ao sabor desta relação estrutural


Despi-me para mim próprio 

e o que vejo é o mapa

de um velho território quase deserto

minas abandonadas

riachos sem fio de água 

árvores de tronco seco


mas de tudo um perfume apaziguador 

e pó 

a minha nudez

em pó.



 

21 comentários:

  1. Dá-te por feliz por teres um território só teu onde podes observar as marcas do tempo porque continuas de pé e sabes responder-me porque é que as "árvores morrem de pé?" Pergunta que o meu pai fazia quando me via mais em baixo.
    Gostei muito deste teu despir, salvo seja:))))
    A foto está magnífica mas não consigo perceber se é uma tela ou um tronco real.
    Beijocas e um bom dia

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    1. Obrigado pelo comentário tão simpático e animador.
      A imagem é verdadeira, de um tronco de árvore.
      Um abraço.

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  2. Essa parede, que o tempo está a descascar, mostrando-a na sua nudez triste, exemplifica bem o que o autor quis dizer quando fala no pó da sua própria nudez.
    Como disse a poetisa alentejana; um dia seremos, pó, cinza e nada.
    Pena que alguns se imaginem acima da mortalidade comum a todos.

    Tenha um Bom Dia, poeta!

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    1. Um comentário que interpreta bem a imagem na sua intencionalidade, ainda que não seja uma parede.
      Seremos pó, mesmo que a partir de cinzas.
      Obrigado.
      Um abraço.

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  3. Saúdo este seu primeiro comentário no meu blog.
    Agradeço.
    Um abraço.

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  4. Bela fotografia de um tronco de árvore a ilustrar um fabuloso poema: "A Minha Nudez"

    Um forte abraço, L.!

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  5. Lindíssimo poema.

    A nossa nudez é o nosso território,
    O nosso mundo!
    Boa Tarde. Beijinhos

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  6. A inquietação do POETA é suavizada pela beleza da fotografia, que me lembra uma pintura 🎨

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    1. Cá dentro inquietação, inquietação
      É só inquietação, inquietação
      Porquê, não sei
      Porquê, não sei
      Porquê, não sei ainda

      Como disse o JMB

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  7. Boa tarde Amigo Pintor/Poeta
    A nossa nudez é uma coisa muita intíma.
    A nudez do poema é outra coisa bastante mais ampla.
    Gostei da foto que me parecer ser uma parede, muito criativa.
    Também pode ser uma árvore, de qualquer modo está bastante boa.
    Os seus dotes fotograficos também são bastante bons.

    Desejo uma semana abençoada, com saúde e harmonia.

    ;)

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    1. A nossa nudez tem uma dimensão para além do corpo visível.
      Muito Obrigado pelas considerações que faz às minhas competências.
      Um abraço.

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  8. Como Adán y Eva, a veces tomamos comnciencia, de que hemos llegado a este mundo desnudos.

    Besos

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    1. Correcto. La desnudez es nuestra primera actuación. Un abrazo.

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  9. Boa tarde meu querido amigo Luís. Falaste de nudez de uma forma poética e preciosa. Vivemos num momento atual, que muitos se preocupam mais com o exterior e aparência, do que o interior. Grande abraço carioca.

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    1. Olá Luiz. É verdade, os homens hoje em dia distinguem-se mais pela aparência exterior do que pela sua valia interior.
      Obrigado.
      Um abraço também.

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