Foto Dreamstime (fracção)




O lugar do reencontro


Ainda conservo os sapatos 

que trouxe da última viagem

como se agarrado a eles

tivesse trazido o espírito de Florença 


quando fico em silêncio 

a olhar, a olhar

ouço

o som do tacão nas pedras

das ruas sem largura

ainda húmidas da manhã 

a caminho do encontro falhado

depois do desencontro em Paris

de onde trouxemos 

a música nos olhos e as cores nos sons

que ___ foi o que ficou das noites

fumarentas da cave do jazz

e da emboscada sangrenta ao amor


Ainda conservo os sapatos que usarei 

para te encontrar um dia ___ ou uma noite

embora não consiga inventar

a maneira exacta de te pedir perdão.





24 comentários:

  1. A leitora não fica agarrada aos sapatos do POETA, fica sim, agarrada ao espírito de Florença.
    Caminha pelas ruas sujas de Paris e vive numa cave existencialista a emboscada sangrenta ao amor.
    Durante a leitura do poema há uma relação quase íntima entre o autor do poema e a leitora.
    Após a leitora pede perdão pela intromissão.

    ResponderEliminar
  2. Respostas
    1. Uma interpretação muito interessante e muito clara a forma como o texto a sensibilizou. Não há nada para perdoar.

      Eliminar
  3. O ser humano é mesmo um "complicódromo":) a resolver problemas de amores e desamores e o pedido de perdão deverá ser na hora e não esperar, porque o passado não volta e nada é como dantes.
    Adorei a foto
    Um abraço e bom dia com chuva

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Essa é a grande dificuldade, só nos lembramos do guarda-chuva quando chove.
      Obrigado, um abraço.

      Eliminar
  4. Inspirado pelo teu poema
    e pelo que tens palmilhado
    fui falar com o meu sapato
    (aquele que segue à frente
    em cada passo dado)

    Respondeu-me com azedume
    pejado de inveja

    Tu nunca me levaste a Florença

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Decerto fizeste outros caminhos que eu também não fiz. Cada sapato com a sua vivência.

      Eliminar
    2. Eu descalça pelos parques londrinos, escondida pelo nevoeiro 🌫

      Eliminar
  5. Belo poema.
    Nunca é tarde para pedir perdão.
    Um feliz fim de semana

    ResponderEliminar
  6. Isto, que acabei de ler, não é um jogo de palavras, sequer será um poema.
    Isto, que acabei de ler, é um acto de contricção!

    Só há uma coisa, uma única coisa, que me intriga na vida deste homem, ou seja, na vida do autor das palavras. Porque será que tendo vivido intensamente, tendo frequentado a noite nas Caves parisienses onde se ouvia Jazz pela noite adentro, se bebia whisky sem gelo, se fumava cigarro atrás de cigarro, vagueou pelo boémio Bairro de Montmartre, encavalitou o seu cavalete nas margens do Sena pintando a manta...pois o que me intriga é: porque razão não gostará de vinho...? Repúdio do que é português?

    Boa tarde.
    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Depois de tanta vida, a pequena dúvida que caracteriza alguém. Não gostar de vinho, de bebidas alcoólicas, de galinha, de frango, de perú, de pato, de lagosta, de camarão, de ostra, de ananás, de morango, do Quim Barreiros, do José Rodrigues dos Santos... há mais, mas não importa.
      Boa Tarde.
      Um abraço.

      Eliminar
    2. Há uma pergunta que se impõe: e de caviar... este Artista gostará?

      Eu provei e abominei. Tanta coisa com caviar e champanhe e, eu, não posto nem de uma coisa nem de outra.
      Obrigada.

      PS- Não leve a mal só quis brincar, até porque de Florença e das suas ruas estreitas onde o sol não entra, pelos vistos gosta.
      Tenho na família uma pessoa que não come nada que venha do mar. Um sufoco quando cá vem a casa. Essa característica não caracteriza o autor que gosta de bacalhau. Vá lá!

      Eliminar
    3. Também não gosto de Champagne e Caviar, nem de vinhos espumantes.
      Bacalhau sim.

      Eliminar
    4. 👍 Como há mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau, não deve ser muito difícil saber o que cozinhar para si.
      E, agora, vou pregar para outra freguesia.

      Fique descansadinho que já cá não volto.
      Um abraço

      Eliminar
  7. El pasado y el presente, se dan la mano, en ese próximo reencuentro.

    Besos

    ResponderEliminar
  8. Um poema que acho ser uma confissão.
    O pedir perdão será uma catarse.
    Mas, o perdão existe.
    Por isso nunca será tarde para perdor, ou pedir perdão.
    Boa semana.
    :)

    ResponderEliminar
  9. A maneira exata é perguntar-lhe:
    Desejas voltar comigo a Florença?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É uma ideia perfeita, uma solução a ter em conta. Obrigado.

      Eliminar