Foto de Bartolomeu Rodrigues

Talvez não descubras que é Novembro 

É novembro 
temo que a chuva caia sobre o poema 
recolho-me no telheiro do lugar 
onde guardo as palavras
Para que o clima te agrade 
mudo até a folha do calendário 
para Maio que é um mês ameno 

em que já se pode andar descalço 

Temo que a chuva caia precisamente 
sobre este poema onde te proponho 
     a contemplação dos meus bichos-da-seda 
     o que tenho de mais raro 
mostrar-te como engomo as minhas camisas 
uma das minhas habilidades 
     exibir-te como caço moscas e mosquitos 
     com bastante eficácia 
revelar-te a minha colecção de cactos 
alguns com flor 
     dizer para ti em voz alta 
     orações, 
     bulas farmacêuticas, 
     cartas oficiais, 
     instruções de electrodomésticos 
     ___ poemas 

     com ou sem música de fundo

E falar-te saudoso dos girassóis 
que tinha no quintal da minha infância 
     do grilo preto ___ grilo cantor 
     que já me conhecia
da caixa de aguarelas do meu pai
a maior maravilha
     dos sonhos 
     já nesse tempo estranhos
e dar-te tudo o mais que me peças 

sobre mim e as minhas competências

Depois disto 
se o poema não ficar à chuva
se não descobrires que já é Novembro 
e se ainda houver tempo
peço-te então 

que me reveles um mundo novo.