Poema que nasceu ao balcão da cervejaria
Sentado ao balcão num daqueles bancos altos ___
___ uma imperial a borbulhar impaciente
e eu a fazer contas nas costas de uma factura
Pergunto ao empregado atarefado e desatento
se sabe que os juros aumentaram ___
___ ele trouxe mais tremoços
percebeu
Os tremoços acabaram!
a inflacção também chega aos tremoços?
perguntei-lhe
e ele apresenta mais tremoços
percebeu
Não chegam os tremoços!
Bebo a imperial já farta de esperar por mim
e saio sem tocar nos tremoços
Afinal a vida
é um lugar de sucessivos mal-entendidos
e eu sou um modesto consumidor de prazer
do que se paga barato e sem compromisso
como beber uma imperial e
desprezar os tremoços
Grave, grave é a factura que trago no bolso
é a vida a ameaçar-me de morte
e o coração assustado a dizer-me
que sou um homem pequeno
para um coração tão ambulante e insubmisso.
Muitos devem ter sido os poemas escritos aos balcões de velhos bares, no entanto, poucos tão sui generis.
ResponderEliminarEntre mal-entendidos, deixou o poeta aquecer a cerveja e o poema por escrever...preocupado pelas coisas comezinhas da vida prática.
Que o coração do poeta é como um povo nómada, que não assenta arraias nem se deixa submeter, já todos percebemos.
Vai ver, é aí que reside o seu encanto... :)
Um abraço.
Um comentário simpático, com uma análise correcta da ideia expressa no texto.
EliminarA valorização de certas características que julga ter vislumbrando no autor e que classifica positivamente, pode ter uma avaliação negativa no julgamento de outros avaliadores.
Agradeço a delicadeza e a atenção com que lê os meus textos.
Um abraço.
Conheço demasiado bem o insuportável peso das facturas que todos - ou quase todos - trazemos nos bolsos.
ResponderEliminarTenho um coração profundamente gregário, embora insubmisso e tristemente remendado, que frequentemente se assusta com o peso das facturas e que, ainda por cima, não gosta mesmo nada de cerveja...
Forte abraço, L.!
Achei muito bem disposto este seu comentário. Tem razão, na nossa contabilidade. desconfio que quando chegamos ao fim dos pagamentos a gaveta do dinheiro conserva uns dispersos euros que já não brilham. Foi a este estado que chegou o "negócio" na nossa "empresa".
EliminarUm abraço.
🍺 Cerveja é a bebida dos deuses e a minha — deusa insubmissa.
ResponderEliminarO preço da cerveja subiu de tal maneira que uma bebedeira de cerveja 🍻 leva o ordenado do mês.
Poema, que embora com humor, expressa o abismo da nossa existência.
E os culpados não somos nós, são os „senhores da guerra“ ☠️ como o nosso amigo Rogério lhes chama!!
O seu comentário, atento e bem analisado, enriquece o texto publicado com o que disse no segundo parágrafo.
EliminarNa guerra estamos todos, as guerras dos outros também agridem a nossa vida e incompatibilizam-nos uns com os outros.
Não gosto de cerveja, mas gosto de tremoços...
ResponderEliminarE gosto da sonoridade subjectiva deste poema diferente, com um final extraordinário.
Aproximam-se tempos difíceis.
Beijo.
Concordo, aproximam-se tempos difíceis, os entendidos em culinária, talvez devam começar a pensar em refeições à base de tremoço.
EliminarUm abraço.
Não conseguimos fugir delas, todos os meses nos tocam na carteira.
ResponderEliminarGostei do que li.
Bom fim-de-semana!
São várias e cheias de arestas... até dói e cada vez mais, para delícia dos que nos enviam as ditas facturas.
EliminarBom fim de semana
Todo se ha encarecido, en estos últimos años y es muy dificíl llegar a fin de mes.
ResponderEliminarBesos.
Aquí, como allá, el oportunismo del capital está encareciendo la vida. Un abrazo.
EliminarOs poetas gostam de um barzinho para compor seus versos e o boleto
ResponderEliminarno bolso tira-lhe toda inspiração _ o garçon se fez de desentendido e te ofereceu
os versos que faltavam para esquecer os juros da conta atrasada rsrs
Bom fim de semana, L
Muito bem conseguido este seu comentário, uma interpretação bem disposta.
EliminarUm abraço.