Foto de Daniel Filipe Rodrigues




Estás longe
cada vez mais longe


Chora ___ 
___ o bandoneón chora 
e arrasta nesse choro o violino 
no momento certo 
o mais curto e belo embora triste 
em que uma nuvem  
turva a tua silhueta imóvel ___ ao longe 
Piazzolla 
comprime e comprime a dor 
e são os sons aflitivos que sílaba 
a sílaba se inscrevem na memória 
Ficou a rosa ainda fechada que deixaste 
tão parecida afinal com o teu sexo.

 




 

23 comentários:

  1. Fica-me uma dúvida
    aparentemente estúpida
    se teu poema foi inspirado em Astor
    ou se não foste tu o seu inspirador

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  2. Teresa Palmira Hoffbauer28 de agosto de 2022 às 01:00

    Uma música delicada e cheia de amargura sintoniza com o poema ávido de prazer.
    E a fotografia é linda de morrer.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer28 de agosto de 2022 às 01:55

      Ontem também, Luís, só que eu não estava aqui para lho dizer.

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  3. Tão triste e angustiante.
    Saber que por cada verso existe uma dor emergente...
    Remete-me para a poesia de Jorge Luís Borges:

    "Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer.
    Não fui feliz.
    Que as geleiras do esquecimento me arrastem e me levem, sem piedade.
    Meus pais me engendraram para o belo e arriscado jogo da vida, para a terra, a água, o ar, o fogo.
    Eu os decepcionei.
    Não fui feliz.
    Não cumpri sua vontade.
    Minha mente se dedicou às perfídias da arte, que tece inutilidades.
    Legaram-me coragem. Não fui valente.
    A sombra de minha infelicidade está sempre ao meu lado."

    Ou e ainda:

    "Do outro lado desta porta um homem
    ignora a sua corrupção. À noite
    elevará em vão alguma prece
    ao seu curioso deus, que é três, dois, um,
    e julgará que é imortal. Agora
    ele ouve a profecia da sua morte
    e sabe que é um animal sentado.
    És esse homem, irmão. Agradeçamos
    Os vermes e o esquecimento."
    ...

    "Sou o que sabe não ser menos vão
    Que o vão observador que frente ao mudo
    Vidro do espelho segue o mais agudo
    Reflexo ou o corpo do irmão.
    Sou, tácitos amigos, o que sabe
    Que a única vingança ou o perdão
    É o esquecimento. Um deus quis dar então
    Ao ódio humano essa curiosa chave.
    Sou o que, apesar de tão ilustres modos
    De errar, não decifrou o labirinto
    Singular e plural, árduo e distinto,
    Do tempo, que é de um só e é de todos.
    Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
    Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada."

    in A Rosa Profunda

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    1. Fico-lhe reconhecido pela transcrição destes poemas de Jorge Luís Borges, que não conhecia e com os quais muito me identifico. Alguns homens trazem consigo, inexplicavelmente, um desgosto e uma amargura ancestral, nem eles próprios sabem porquê.
      Obrigado.

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  4. Um sofrimento atroz de memórias que não se apagam. Não consigo ouvir a música porque as colunas estão maradas e a foto é muito bonita.
    Beijos e um bom domingo

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    1. As colunas são uma fonte de grandes limitações, com a idade há pessoas que sofrem de "bicos de papagaio", um flagelo. Talvez seja o mal das suas colunas. Desculpe a brincadeira.
      Um abraço.

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    2. Não tens que pedir desculpa e fizeste-me rir. Sim há quem sofra da coluna mas felizmente não é o meu caso é sim do computador porque as gajas não gostam de humidade e nestes dias é o que há mais por aqui.
      Um abraço sincero

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  5. Bandoneon
    Há tanto tempo que não via evocar piazolla desfa forma
    🙂

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  6. Vi a fotografia - lindíssima! - li e reli o seu ESTÁS CADA VEZ MAIS LONGE, ouvi e tornei a ouvir o bandonéon de Astor Piazzolla e ainda li e reli as estrofes de Jorge Luís Borges. Hoje perdi-me por aqui...

    Um forte abraço, L.!

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  7. A foto é linda a música emociona e gostei do poema. Em suma, um três em um cinco estrelas.
    Abraço, saúde e bom domingo

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    1. Muito obrigado pela classificação que deu à publicação de hoje.
      Bom domingo, um abraço.

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  8. Não há uma só música que eu tenha ouvido, interpretada por Piazzolla - o Músico argentino que cresceu no EUA, - que tenha gostado menos. Todas me encantam, sejam Tangos ou outros ritmos.. Na verdade, também não sei distinguir com conhecimento de causa o nome do instrumento de onde o músico extrai sons tão belos.
    Seja bandoneón, acordéon ou concertina, para mim, leiga no assunto, só contam as notas que me façam estremecer e arrepiar a pele...
    O poema desta vez está mais de acordo com a música do que com a imagem, que retrata um nostálgico fim de tarde, a 'boca' tenebrosa de um túnel, que se prestava a poemas onde a melancolia estivesse presente...e esteve!

    Um abraço.

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    1. Piazzolla foi genial nas suas criações para o bandoneón, instrumento que dominava com grande sentimento.
      Na imagem, talvez o túnel no princípio da noite, possa ilustrar a tristeza da partida para a escuridão.
      Um abraço.

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  9. Esquecimento pode ser algo bem doloroso...
    Elogio a profunda sensibilidade da publicação nos seus três itens.
    Saudação poética.
    ~~~

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  10. Esa música me encanta y lo que transmite bien lo expresas en tu bello poema.
    poema. Besos.

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