Foto de Daniel Filipe Rodrigues
Estás longe
cada vez mais longe
Chora ___
___ o bandoneón chora
e arrasta nesse choro o violino
no momento certo
o mais curto e belo embora triste
em que uma nuvem
turva a tua silhueta imóvel ___ ao longe
Piazzolla
comprime e comprime a dor
e são os sons aflitivos que sílaba
a sílaba se inscrevem na memória
Ficou a rosa ainda fechada que deixaste
tão parecida afinal com o teu sexo.
Fica-me uma dúvida
ResponderEliminaraparentemente estúpida
se teu poema foi inspirado em Astor
ou se não foste tu o seu inspirador
Astor Piazzolla foi grande.
EliminarUma música delicada e cheia de amargura sintoniza com o poema ávido de prazer.
ResponderEliminarE a fotografia é linda de morrer.
Quer dizer.... hoje saiu tudo bem.
EliminarOntem também, Luís, só que eu não estava aqui para lho dizer.
EliminarTão triste e angustiante.
ResponderEliminarSaber que por cada verso existe uma dor emergente...
Remete-me para a poesia de Jorge Luís Borges:
"Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer.
Não fui feliz.
Que as geleiras do esquecimento me arrastem e me levem, sem piedade.
Meus pais me engendraram para o belo e arriscado jogo da vida, para a terra, a água, o ar, o fogo.
Eu os decepcionei.
Não fui feliz.
Não cumpri sua vontade.
Minha mente se dedicou às perfídias da arte, que tece inutilidades.
Legaram-me coragem. Não fui valente.
A sombra de minha infelicidade está sempre ao meu lado."
Ou e ainda:
"Do outro lado desta porta um homem
ignora a sua corrupção. À noite
elevará em vão alguma prece
ao seu curioso deus, que é três, dois, um,
e julgará que é imortal. Agora
ele ouve a profecia da sua morte
e sabe que é um animal sentado.
És esse homem, irmão. Agradeçamos
Os vermes e o esquecimento."
...
"Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada."
in A Rosa Profunda
Fico-lhe reconhecido pela transcrição destes poemas de Jorge Luís Borges, que não conhecia e com os quais muito me identifico. Alguns homens trazem consigo, inexplicavelmente, um desgosto e uma amargura ancestral, nem eles próprios sabem porquê.
EliminarObrigado.
Um sofrimento atroz de memórias que não se apagam. Não consigo ouvir a música porque as colunas estão maradas e a foto é muito bonita.
ResponderEliminarBeijos e um bom domingo
As colunas são uma fonte de grandes limitações, com a idade há pessoas que sofrem de "bicos de papagaio", um flagelo. Talvez seja o mal das suas colunas. Desculpe a brincadeira.
EliminarUm abraço.
Não tens que pedir desculpa e fizeste-me rir. Sim há quem sofra da coluna mas felizmente não é o meu caso é sim do computador porque as gajas não gostam de humidade e nestes dias é o que há mais por aqui.
EliminarUm abraço sincero
👍
EliminarBandoneon
ResponderEliminarHá tanto tempo que não via evocar piazolla desfa forma
🙂
Piazzolla transporta consigo a emoção.
EliminarVi a fotografia - lindíssima! - li e reli o seu ESTÁS CADA VEZ MAIS LONGE, ouvi e tornei a ouvir o bandonéon de Astor Piazzolla e ainda li e reli as estrofes de Jorge Luís Borges. Hoje perdi-me por aqui...
ResponderEliminarUm forte abraço, L.!
Tomo a sua "perdição" como um elogio.
EliminarSaúde, um abraço.
A foto é linda a música emociona e gostei do poema. Em suma, um três em um cinco estrelas.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
Muito obrigado pela classificação que deu à publicação de hoje.
EliminarBom domingo, um abraço.
Não há uma só música que eu tenha ouvido, interpretada por Piazzolla - o Músico argentino que cresceu no EUA, - que tenha gostado menos. Todas me encantam, sejam Tangos ou outros ritmos.. Na verdade, também não sei distinguir com conhecimento de causa o nome do instrumento de onde o músico extrai sons tão belos.
ResponderEliminarSeja bandoneón, acordéon ou concertina, para mim, leiga no assunto, só contam as notas que me façam estremecer e arrepiar a pele...
O poema desta vez está mais de acordo com a música do que com a imagem, que retrata um nostálgico fim de tarde, a 'boca' tenebrosa de um túnel, que se prestava a poemas onde a melancolia estivesse presente...e esteve!
Um abraço.
Piazzolla foi genial nas suas criações para o bandoneón, instrumento que dominava com grande sentimento.
EliminarNa imagem, talvez o túnel no princípio da noite, possa ilustrar a tristeza da partida para a escuridão.
Um abraço.
Esquecimento pode ser algo bem doloroso...
ResponderEliminarElogio a profunda sensibilidade da publicação nos seus três itens.
Saudação poética.
~~~
Saúdo a sua vinda e o seu simpático comentário.
EliminarUm abraço.
Esa música me encanta y lo que transmite bien lo expresas en tu bello poema.
ResponderEliminarpoema. Besos.
Piazzolla también me impresiona. Un abrazo.
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