Foto de Daniel Filipe Rodrigues





A cidade é grande


A cidade

onde há paredes com portas

mas nem todas abrem para a vida

     onde há gente sem roupa

     a fazer da nudez moda

onde muitos fingem que comem

em pratos mal cheios

     onde se engolem charutos incandescentes 

     e se beija à socapa

onde os coxos passam despercebidos

porque não precisam de correr

     onde os que se riem são perseguidos

     pelo homem sombra

onde os larápios se confundem

com os honestos ___ sem esforço. 


A cidade já não cabe na minha janela.




 

14 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer17 de setembro de 2022 às 00:13

    Numa janela linda de morrer como a da fotografia cabe lá o mundo.
    O contraste da cor intensa da parede com o branco da janela e das cortinas é surpreendente.

    A cidade é grande como é grande a mensagem do POEMA.

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  2. Li e reli e pensei nas mil coisas negativas que se escondem atrás de uma janela...solidão, fome, quem usa como teto(em casas devolutas) etc, etc. e alguns presos em cadeiras de rodas.
    Isto levou-me a um casal que morou aqui bem perto num R/C. Sempre que ia o pão o senhor pedia-me para lhe comprar o jornal e um maço de tabaco, mas não diga à minha mulher que eu fumo. Fazia o que me pedia, batia na janela e ele agradecia tanto. Só que não sabia que a mulher ia à porta do prédio e pagava-me o maço de tabaco porque ele dava-me o dinheiro do jornal, mas pedia para não lhe dizer nada. Ironicamente ou não o senhor morreu e ela passado três meses. A Janela deles era idêntica a da foto. Desculpa mas o teu poema fez-me recuar a lembranças que não esqueço.
    Beijos e um bom dia

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    1. Nós olhamos para a cidade mas a cidade não olha para nós.
      A história que contaste seria bonita pela sua ingenuidade não fossem as razões tristes que acabam por diminuir algumas pessoas com o decorrer da idade.
      Um abraço.

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  3. Versi eccellenti e profondi i tuoi, che ho sinceramente apprezzati. Complimenti.

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    1. Il tuo commento è molto bello, a qualsiasi autore piace compiacere i suoi lettori. Un abbraccio.

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  4. e a janela já não cabe na cidade.
    cada maior a cidade, e cada vez a solidão e a indiferença também.
    gosto do poema e da foto.
    bom fim-de-semana.
    :)

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    1. Cada vez mais separados na ilusão de que estamos juntos.
      Um abraço.

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  5. Tão bela é a fotografia da janela quão belo é o poema/cidade - de vivos e para os vivos, esta.

    No entanto, quando escrevia em sintonia com a Musa, tinha , por vezes, a sensação de que era a minha janela que já não cabia na cidade. Depois "acordava" e reparava que a cidade era enorme, cada vez maior e cada vez mais cheia da ausência das minhas pegadas.

    Forte abraço, L.!

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    1. As cidades já não estão à nossa dimensão ou nós já não estamos à dimensão delas... é mais segunda hipótese.
      Um abraço.

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  6. Comentário de Marlene recebido por mail:

    Não conseguimos viver sem essa visão, ainda que as janelas permaneçam fechadas. Ela está arraigada em nossos corações, diante do que as cidades mostram. Abraço.

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    1. A nossa visão sobre a cidade não consegue ver as partes ocultas.
      Um abraço.

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  7. A janela é linda. O poema, continua a mostrar o momento atual em a humanidade se encontra num ponto de viragem do qual não sabemos se há volta.
    Abraço, saúde e bom domingo.

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    1. O nosso futuro é uma incógnita, agora mais do que nunca desde o tempo em que nascemos.
      Um abraço.

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