Conheço-te de vista


Algo me diz 

que não te posso descrever 

como se fosses humano

Tens os olhos muito juntos 

o crânio chato 

a testa alta 

em tudo se assemelhando

às figuras da Ilha da Páscoa ___

___ sem mistério 

A tua voz arrastada 

de língua difícil 

como se fosses de um país 

estranho ___ inexistente 

assusta as crianças 

que te olham à distância

Algo me diz 

que não te posso descrever 

como se fosses humano

mas suspeito que te conheço 

há duzentos mil anos 

moras na caverna moderna 

ao lado da minha 

mas evito cruzar-me contigo.




 

16 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer16 de outubro de 2022 às 00:52

    Desconfio que se refere a um vizinho que esteve ausente durante uns tempos.
    Trocando em miúdos, esse tipo que assusta as crianças (eu diria, que as criancinhas é que o assustam) é da família dos primatas, possivelmente um „australopithecus afarensis“ — de grande interesse no campo da ciência.

    A seta amarela parece uma porta que se abre para entrarmos ou na caverna do poeta ou na do insólito vizinho.

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    1. Este, o do texto, é apenas pithecus.
      A imagem simboliza as modernas cavernas.

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  2. Feliz de mim
    Não conhecer alguém assim
    Nem de vista
    Nem vizinha

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  3. Poema intenso e profundo... chegando tão longe, tão longe, que eu nem consigo descrever o que está na sua profundidade.

    Um domingo feliz

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    1. Um comentário substancial, que agradeço.
      Bom domingo também para si.

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  4. Valeu-me a argúcia da Teresa, ou teria tomado este estranho antepassado por um qualquer "outro que não eu" ou, simplesmente, "outro que não o que escreve" ou ainda "outro que pensa de forma diferente da do que escreve"...

    Gosto muito da luminosidade da moderna caverna.
    Há duzentos mil anos, tal como agora, feliz seria/será quem conseguisse/conseguir ter uma caverna e mantê-la quentinha e iluminada no Inverno.

    Forte abraço, L.

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    1. O pithecus não é nenhum de nós. São, isso sim, alguns que vivem paredes meias connosco, iguais aos antepassados de há duzentos mil anos.
      Um abraço.

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    2. A imbecilidade do verdadeiro Pithecus actual, foi criada para vendar os olhos aos que se julgam sábios, só com um olho, em terra de cegos....

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    3. Tenho pithecus próximo da minha caverna, assam sardinhas por baixo do meu estendal, não pagam o condomínio, entopem as canalizações, estacionam em cima dos passeios, não fecham as portas e portões do prédio, fazem sons "estranhos" durante a noite, ouvem música "pimba" em alto volume, no saguão.
      A referência a um olho só, não tem aqui cabimento, será talvez a sua experiência pessoal.

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    4. Já que fala em "saguão" é tempo de dizer , "quando o urubu está com azar até o de baixo mija para o de cima."
      Assar sardinhas e o fumo descer, em lugar de subir ou ser levado pelo vento? Não será o pithecus do rés-do-chão que assa as sardinhas?
      Os poemas não se explicam...porque quanto mais se explicam, menos parecem poesia.
      Mais parecem cuscovilhices de mulheres de "soalheiro".

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  5. intenso, mas interessante!:))
    -
    Beleza que exalas...
    .
    Beijos e um excelente Domingo.

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    1. Interessará, talvez, a quem conhece esta experiência.
      Bom domingo. Um abraço.

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  6. Nem é necessário conhecer o rosto porque os atos já definem esses desrespeitosos e inconveniente vizinhos. Abraço.

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  7. Respostas
    1. É exactamente isso, o desrespeito pelos outros.
      Obrigado.
      Um abraço

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