Uma ausência
Um homem está sentado a uma mesa
sobre a mesa há dois copos e uma garrafa
de uma bebida indeterminada
O homem já é quase velho
e fala para um lugar
onde está uma cadeira vazia
O homem fala para uma ausência
e essa ausência é a do seu pai
curiosamente correu pelo nariz do homem
o cheiro do tabaco que o pai fumava
tabaco espanhol o mesmo que a sua avó
___ a mãe do pai ___ fumava
Passaram muitos anos desde a sua morte
o homem é já mais velho do que o seu pai
O homem passou a noite inteira
contemplando a ausência do pai
sendo então o homem já mais velho
que o seu pai foi capaz de lhe dizer tudo
o que nunca foi capaz de lhe dizer
e terminou num sussurro audível
mato-te e engulo-te meu pai
e o pai riu-se
coisa que nunca o viu fazer
Nisto o dia levantou-se
e uma súbita lâmina de luz entrando
por entre as portas interiores da janela
iluminaram o lugar do ausente
com um brilho diferente da luz simples do sol
O homem não resistiu e saudou
a ausência do seu pai
com um gole da bebida indeterminada
e com as suas últimas lágrimas.
Uma ausência bem sofrida regada com excesso de alcool, a conjugação perfeita para me causar arrepios e náusea.
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Objectivo conseguido, tocar a sensibilidade do leitor.
EliminarBom Dia de Ano Novo.
Um abraço.
Bom dia
ResponderEliminarComo se pode ficar indiferente perante esta ausência .
JR
Saúdo a sua vinda e o seu comentário. Agrada-me não deixar o meu leitor indiferente.
EliminarBom Novo Ano.
Um abraço.
Dessas ausências que em épocas sentimentais elas retornam aos mais sensíveis.
ResponderEliminarGosto do sentir do poeta.
Muito bom Ano Novo L ,para todos nós !
meu primeiro abraço de 2023 para que não nos falte o ano inteiro .
Há momentos cíclicos em que a memória se aviva e os ausentes esperam o nosso olhar.
EliminarBom Ano, saúde.
Um abraço.
Começar o ano com memória
ResponderEliminarBom ano
De acordo, há coisas que não devem ser esquecidas.
EliminarBeber em companhia tem mais piada.
ResponderEliminarRecordar os que partiram tão cedo é tradição na nossa família.
A intimidade com os leitores vai evoluindo, doce (às vezes brutal) e segura, através das dúvidas partilhadas ou das confidências que se pressentem ser situações verdadeiras. A leitora das margens do Reno entende assim as publicações do POETA.
Aproveite 2023 sempre com os olhos no presente 🍀 e continue a surpreender os seus leitores com a riqueza do seu passado!!
Celebro a fidelidade e o acompanhamento dos meus leitores expondo a minha produção sem reservas.
EliminarEstarei aqui até ter quem me siga, afinal, os leitores são a minha razão de continuar.
Estive em excelente companhia, nesta passagem de ano, e brindei com água tanto aos presentes quanto aos ausentes...
ResponderEliminarEste poema tocou-me profundamente, embora me não consiga identificar com esse homem que brinda à memória de seu pai com vinho e com as suas últimas lágrimas.
Um enorme abraço, L.!
Os ausentes sempre nos fazem um sinal para que nos lembremos deles, em certas ocasiões.
EliminarUm abraço.
Um poema comovente. Um pai que se recorda, não sei bem se com carinho, se com mágoa, mas de qualquer modo com saudade.
ResponderEliminarAbraço, saúde e um feliz Ano 2023
Até as mágoas se vão aveludando com o tempo, embora não se esqueçam.
EliminarSaúde e que 2023 seja um bom ano.
Um abraço.
Um poema de saudade.
ResponderEliminarUma memória que bateu no Poeta.
(Falo por mim .Um pai que tanta falta me fez, ao longo da vida!)
Ficou a saudade...
:(
Momentos em que evocamos os nossos.
EliminarUm abraço.