Foto de Daniel Filipe Rodrigues




Sou


Sou no meu desenho externo

a aparência desfocada

do meu desenho interno

para que não se perceba

de quantas partes me constituo


sou com o meu corpo

as vestes de mim próprio 

a minha própria ocultação 


espero ser compreendido

por não exibir a minha nudez

mostro-vos os poemas ___

___ ou seja ___

___ mostro-vos a minha

intimidade possível 


depois fico mudo

e fecho os olhos controlando

as crises de insónia

com o despertador programado

para as sete da manhã.




 

16 comentários:

  1. Li e reli e achei que te escondes/desabafas/escreves a tua insegurança devido às pancadas da vida. A meu ver nunca contrario o teu modo de ser porque respeito o que és e jamais pedir mais!
    O poema e a foto levou-me a sentir o que escrevi!
    Beijos e um bom sábado

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    1. AUTOPSICOGRAFIA

      O poeta é um fingidor.
      Finge tão completamente
      Que chega a fingir que é dor
      A dor que deveras sente.

      E os que lêem o que escreve,
      Na dor lida sentem bem,
      Não as duas que ele teve,
      Mas só a que eles não têm.

      E assim nas calhas da roda
      Gira, a entreter a razão,
      Esse comboio de corda
      Que se chama o coração.

      Fernando Pessoa

      Um abraço.

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    2. Cada um com a liberdade dos seus gostos... respeitáveis.
      Um abraço.

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  2. A foto fechada é assustadora. Dá para imaginar tudo e mais alguma coisa que esteja para além da exígua janelinha .
    O poema reflete um estado de alma que, caso não fosse na forma poética, seria preocupante.
    Gostei
    Um Sábado feliz

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  3. Mostrar a intimidade possível através do poema, é tanto, meu Amigo Luís. Tudo o resto é uma extensão daquilo que a alma sente. Belíssimo poema.
    Tudo de bom.
    Um beijo.

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    1. Vamos até onde a habilidade e o recato nos permitem.
      Um abraço.

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  4. Gostei imenso tanto da fotografia quanto do poema que confessa mostrar a intimidade possível.
    Nem sempre falo de mim, nos meus poemas, mas quando falo de mim, não finjo. Nem finjo quando me levanto em nome dos que nada têm. Não creio que Pessoa se considerasse um poeta fingidor. Creio sim que sabia que as diferentes leituras de cada poema são inevitáveis e são elas que transformam o poeta num fingidor, por serem tão diversas.

    Forte abraço, L.!

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    1. De acordo com tudo o que disse mas, há ocasiões em que nem nós sabemos o que deveras sentimos.
      Um abraço.

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    2. Para isso - e não só, clero! - servem os poemas, L. : Para descobrirmos o que sentimos quando não estamos muito seguros di

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  5. um poema onde a fotografia tenta acompanhar o poema na sua intimidade (im)possível.
    a leitura de cada leitor é da responsabilidade de quem lê como quiser.
    belo poema.
    bom fim-de-semana.
    :)

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    1. Certo, cada um a interpretar com toda a bagagem que trás consigo.
      Um abraço.

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  6. Um poema magnifico onde se auto-analisa ou será como Pessoa?
    Beijinhos e bom fim de semana.
    Ailime

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    1. Ainda não nos descobrimos completamente a nós próprios.
      Um abraço.

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  7. Gosto tanto do poema como da fotografia.
    Uma simbiose brilhante.
    Arrepiei-me com o despertador programado para as sete da manhã.
    Hoje fui obrigada a levantar-me às sete da manhã.
    Detesto levantar-me cedo.
    Eu sou uma coruja e não uma cotovia.

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    1. Valido o seu comentário.
      Também eu me arrepio com o despertador a tocar às 7 da manhã.

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