Foto do autor do texto




A minha rua


Na minha rua ao fim do dia

é tal o silêncio que me custa a crer

ser um lugar habitado


é tão profunda a quietude

que um velho que passa ao longe

curvado e lento mais acentua

o negrume das horas


tomo então nota de cada quebra de silêncio 

um choro breve de criança

ao cimo da escada

uma motorizada enérgica 

ao longe a esvair-se

um cão a ladrar às sombras

no eco de um jardim


Na minha rua ao fim do dia

é tal o silêncio que me custa a crer

ser um lugar habitado


é assim que mato a falta de poesia

na minha rua ao fim do dia ___

___ mantendo-me vivo e

fazendo um poema.




 

17 comentários:

  1. Desvendei a magia do poema e da fotografia, que estão em absoluta sintonia.
    Grandiosa publicação.
    Boa noite 🌙 ainda das margens do rio Reno.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um comentário que anima o autor, neste silêncio instalado na minha rua.

      Eliminar
  2. Bom dia. Não me parece ser assim uma rua tão desabitada e titular de tanto silêncio. Um velho, alguém numa motorizada, uma criança que chora mas que, certamente, não estará sozinha um cão, e o fotografo/poeta. (rsrssrsr)
    Claro que gostei de ver e ler o poema

    Uma sexta feira feliz

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As metáforas. Esses são os sons que sublinham o silêncio.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. A quietude da tua rua conjugada com a foto está algo soberbo e que gostei muito. Parabéns!
    Já não posso dizer da minha rua pela enorme poluição sonora de carros e mais carros e não só!
    Beijos e um bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A poluição sonora é pior que o silêncio profundo.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. PS: faltou na segunda linha...dzer "o mesmo"! As minhas desculpas!

    ResponderEliminar
  5. Em perfeita sintonia com essa rua estreitinha, que vai direitinha desaguar à Ribeira do Porto, tão castiça, tão reconhecível, só mesmo um excerto das Avé Marias, de Cesário Verde, podem fazer jus a esta publicação.

    Nas nossas ruas, ao anoitecer,
    Há tal soturnidade, há tal melancolia,
    Que as sombras, o bulício, o Douro, a maresia
    Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

    O céu parece baixo e de neblina,
    O gás extravasado enjoa-me, perturba;
    E os edifícios, com as chaminés, e a turba
    Toldam-se duma cor monótona e londrina.

    Batem carros de aluguer, ao fundo,
    Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
    Ocorrem-me em revista, exposições, países:
    Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

    Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
    As edificações somente emadeiradas:
    Como morcegos, ao cair das badaladas,
    Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

    E evoco, então, as crónicas navais:
    Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
    Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado
    Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

    (...)

    (Anónimo, mas pouco...)

    ResponderEliminar
  6. Bom dia
    Poema que nos consola ao fim do dia ou a qualquer hora do mesmo.

    JR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como disse alguém com humor "é preciso é acordar vivo".
      Um abraço.

      Eliminar
  7. Belíssima fotografia a ilustrar um poema que lhe devolve a poesia nocturna...

    A minha rua, não é uma rua, é um passeio no qual os carros não circulam. Alguns amigos meus e um bombeiro que sabia o que fazia, não devolveram a poesia ao meu passeio, mas ao conseguirem que a VMEER lá chegasse a tempo, devolveriam, tempos depois, esta poeta ao seu passeio.

    Agora a VMEER não tem forma de cá chegar, todas as entradas estão bloqueadas por pilaretes e só os bombeiros têm a chave de um dos pilaretes. Já foi feito um abaixo assinado contra os pilaretes, mas nada mudou até agora. Espero que nenhum habitante deste Passeio Vitorino Nemésio sofra um enfarte ou um AVC antes de os pilaretes serem removidos. A VMEER existe exactamente para este tipo de acidentes.

    Forte abraço, L.!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Afinal a minha rua, mesmo tão silenciosa, é um lugar valioso.
      Um abraço.

      Eliminar
  8. Foto e poema em sintonia perfeita com o silêncio e a solidão. Gostei de ver e ler.
    .
    Saudações cordiais e poéticas.
    Feliz fim de semana
    .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E eu agradeço a simpatia do seu comentário.
      Saudações, saúde
      e bom fim de semana.

      Eliminar
  9. Miradas desde mi lente deixou um novo comentário na mensagem "":

    Si fuera una calle ruídosa, habría que poner doble cristalamiento, para evitar que el ruído penetre en el interior de la casa. En el silencio, se puede escuchar muy bien la música de tu preferencia.
    Que tengas un buen fin de semana. Un abrazo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muy buena sugerencia tener ventanas de doble acristalamiento. Esperaré a que el presupuesto financiero permita esta inversión. Un abrazo.

      Eliminar