Inteligência artificial 


Somos o princípio do resto 

dos poetas ___

___ seremos os simbolistas

com as mãos entre as pernas

enxovalhados pelos algoritmos

que não nascem nem morrem

que não amam

que não têm filhos


Seremos os últimos 

poetas

a desejar de verdade

os seios das mulheres 

a contemplar de verdade

o despontar de uma flor

a afagar com verdade

o crânio de um recém-nascido 


Somos o princípio do resto

da poesia

que a besta dos algoritmos 

transformará na mais inútil 

vocação do ser humano ___

___ vamos bater os pés 

nas poças da inquietação

e salpicar todos os que estão em volta.










12 comentários:

  1. Vendo, lendo no silêncio da curiosidade poética, em reflexão me deixei ficar, a fim de me encontrar entre a intensidade e profundidade poética de palavras tão exigentes

    Abraço

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  2. É mesmo assustador para as gerações futuras porque na minha já era!! As tuas pinturas são igualmente sinistras coincidentes com o poema que fizeste e que gostei! Eu não diria melhor!
    Beijocas e um bom dia

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    1. Podemos prever tempos que, no futuro, tornarão a vida dos nossos filhos e netos cada vez mais desumanizada.
      Um abraço.

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  3. A previsão de um mundo futuro acompanhada por dois desenhos lindos de morrer.
    Almeida Garrett disse que o comboio 🚂 era obra do diabo.
    As gerações que nasceram depois, não se assustaram nem com os comboios 🚂 nem com os aviões ✈️

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    1. Os exemplos que apresenta não são comparáveis. É constatável que o mundo é um lugar com progressiva desumanização, cujos efeitos caem brutalmente sobre as camadas de população mais desfavorecidas.

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer10 de maio de 2023 às 14:20

      O que eu queria dizer é que os jovens NÃO se assustam com as novas tecnologias.
      Na exposição do artista de inteligência artificial Refik Anadol, a maioria dos visitantes era jovem.
      O mundo foi sempre desumano desde a Idade da Pedra.
      Eu somente lamento não estar presente daqui a uns 💯 anos.

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  4. Um fabuloso poema, L.

    Há anos que ando a afiar as garras para a minha primeira coroa de sonetos com uma I.A. sem umbigo. Se ela demorar muito, talvez eu já nem garra(s) tenha, mas sei que virá e que já sabe mais sobre o soneto do que eu sei. Se nos viermos a bater em duelo - não sei se em sonho ou se em pesadelo - a minha única vantagem será o talento, embora ela já tenha incorporado os talentos de tudo quanto foi sonetista, desde Jacobo da Lentini até aos dias de hoje...

    Nunca fui competitiva e entendo as Coroas de Sonetos como uma dança ou um longo abraço entre sonetistas, mas aprendi o que era competitividade no dia em que tomei conhecimento de que a IA já ia compondo os seus poemas. Como faço parte daquele reduzido número de poetas que acreditam que a genuinidade é um dos grandes valores da poesia, sempre quero ver até que ponto ela consegue mimetizar a genuinidade. Só tenho medo é de, na minha humana fraqueza, poder vir a deixar-me cativar pela poesia da IA. Nunca me perdoaria se tal acontecesse, mas sou suficientemente conhecedora das minhas humanas fraquezas para saber que isso pode acontecer. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa, direi se a tão degradante ponto eu chegar.

    Obrigada pelas árvores-nuvem na primeira aguarela/grafite... com alguns, poucos, traços a pastel de óleo, se a minha fraca acuidade visual me não trai.

    Um grande abraço, L.!

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    1. Com a IA enquanto Hemingway escrevia um conto a "máquina" escreveria dez mil contos. Onde fica o talento, a verdade, o cunho humano?
      Na imagem, tem todos os materiais que referiu e ainda, aguarela.
      Um abraço.

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  5. Espero que esta inteligencia artificial, se utilice lo necesario y de forma bien controlada y no se apodere completamente del mundo, de ser así, esto se nos podía ir de las manos.
    Besos.

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    1. Creo que habrá grandes problemas de índole humana. Un abrazo.

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