Uma criança, um jovem, um velho
São tantas as horas de lazer
que não deixam medrar
qualquer função que não contenha
um condimento de prazer
dou por mim de cotovelos assentes
no parapeito da varanda
entre um cigarro
e um cuspo de desalento
abraço com os olhos as orquídeas
que ___ reparo ___
também estão a olhar para mim
vejo-me então a passar ___ lentamente
em frente à minha casa
e em cada passo à cadência
de LES INDES GALANTES
reconheço-me na minha silhueta
as costelas flutuantes mais saídas
o pescoço longo
o queixo horizontal
trago pela mão uma criança
reconheço-me no meu cabelo loiro
nos calções com suspensórios
nas sandálias
na mão trago uma caixa preta de aguarelas
caminho ao lado de mim próprio
saltando de quando em quando ___
___ assim se vão tornando transparentes
as figuras
caminhando até ao fim da rua
e eu de cotovelos assentes
no parapeito da varanda
vejo-me de novo vindo do fim da rua
reconheço-me no jovem adulto
na minha barba vaidosa
no meu longo cabelo
agora castanho
trago pela mão um velho
no qual me reconheço
nas costas dobradas
na falta de cabelo
no caminhar arrastado
e cada passo à cadência
de LES INDES GALANTES
passam sob a minha varanda
o jovem não me reconhece
mas o velho acena-me
Há uma criança
um jovem e
um velho
que habitam o poema triste
que nasce aos poucos
do próprio poema ___
___ não quero saber
estou tão feliz.
Não tenho varanda
ResponderEliminartenho janela
e vejo-me através dela
eu, passando
de mão dada
Tenho assim uma gravata
Não sou loiro, nunca usei boina
Quer acredites, quer não
era eu que te levava pela mão
Tudo pode acontecer neste estranho mundo.
EliminarUm poema bastante inquietante e com imensa saudade de um tempo que já era. A foto é soberba e o vídeo também. Parabéns poeta!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Os vários períodos da nossa vida.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Bom dia
ResponderEliminarA foto, o texto e o vídeo complementam-se com uma sensibilidade extraordinária de quem sabe o que faz.
JR
Caro Joaquim, agradeço o seu comentário, sempre positivo e animador para o autor.
EliminarUm abraço.
Bom dia. A sua sensibilidade e capacidade poética impressiona e emociona. Uma foto linda talvez a lembrar tempos antigos e poema inserta em recordações de juventude e idade mais adulta. Harmonia encantadora
ResponderEliminarQue a felicidade esteja sempre em seu coração
*
Cara Mariete, é sempre bom ter comentários como o seu, estimula o autor a continuar.
EliminarMuito Obrigado.
Um abraço.
De volta às margens do rio Reno, entro novamente aqui, após um pequeno-almoço solitário, sem um mínimo poético, mas delicioso.
ResponderEliminarA fotografia é já conhecida, mas muitíssimo bem escolhida.
A criança, o jovem, o velho habitam a alma do poeta.
Estou com um pé fora de casa, portanto, vejo e ouço o vídeo quando regressar.
De pequenos almoços sem poesia... está o mundo cheio.
EliminarO autor, nas suas múltiplas evoluções, habita a sua própria pessoa.
um detalhe de memória
ResponderEliminarque saltou no tempo
caminhando em modo antigo
e terminando na alegria de um acenar
que reaviva outros tempos com saudade.
sensivel e belo.
boa semana.
:)
Nós a lembrarmo-nos de nós próprios.
EliminarUm abraço.
Que esplêndido poema, L.!
ResponderEliminarQual de nós se não encontra amiúde com a criança e o jovem que foi, se tudo o que fomos até este preciso instante
nos continua a habitar?
Forte abraço!
Somos o mesmo embora outros que se vão tornando diferentes.
EliminarUm abraço.
O filme da vida, que passa pelas estações da existência numa fracção de segundos.
ResponderEliminarOs garotos de meu tempo (também aqui me revendo) não usavam calças, somente calção, por mais calor ou frio que fizesse, habitualmente com suspensórios.
Somos um pouco do tudo que vivemos, a criança, o jovem, o idoso e a mistura de todos eles.
Um kandando
Somos fruto da mesma época.
EliminarUm abraço.
Uma criança, um jovem, um velho, abraçando a vida neste belíssimo poema.
ResponderEliminarBeijinhos e boa semana.
Ailime
O mesmo sendo muitos.
EliminarUm abraço.
Cidália Ferreira deixou um novo comentário na mensagem "":
ResponderEliminarSimplesmente maravilhoso! Obrigada pela aprtilha:))
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Num sem fim de tormentos...
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Beijos e uma boa tarde!
Muito obrigado.
EliminarUm abraço.
VENTANA DE FOTO deixou um novo comentário na mensagem "":
ResponderEliminarTodos pasaremos por esas tres fases, si es que no se nos va la vida de las manos antes de tiempo.
Besos.
Ya sea la vida corta o la vida larga, siempre seremos diferentes en cada época. Un abrazo.
EliminarGosto imenso da foto, embora me pareça que já a tinha visto. O poema, um monólogo do poeta, com o passado e o presente, nos sentimentos que lhe provocam o menino e o jovem que foi, e que transporta na sua memória, e o homem que no presente, não aceita a idade que sente como a prisão dos sonhos que o habitam, e se isola.
ResponderEliminarAbraço, saúde e um feliz mês de Maio.
Uma análise que cabe perfeitamente no texto de hoje.
EliminarA foto já tinha sido publicada antes.
Um Maio florido também para si.
Um abraço.