Foto de Ana Luís Rodrigues



Gravar na memória 


Não preciso de rasgar ou queimar

as tuas cartas e as fotografias 

apenas com uma tecla

elimino o arquivo que tinha guardado

com o teu nome 

depois

acabarei com o que resta de ti

roupas

livros

flores

e cabelos por aqui e por ali

lavarei todas as roupas da minha cama 

mas não só 

vou desfazer-me delas

com um ritual de descrença ___

___ depois de lavadas

vou recortar pedaços 

em forma de coração 

a que largarei o fogo

naquela zona recôndita da praia

onde ___ no passado

respirávamos com o corpo todo ___

___ cada espiral de fumo

será como se o teu corpo se esfumasse 

de modo a que nunca mais 

eu te possa encontrar


assim será 

para que eu nunca mais te possa esquecer.



 

10 comentários:

  1. Não adianta desfazer o quer que seja para esquecer o quer que seja, já que é na memória(humana) onde se guarda em gavetas. A foto é linda e gostei do teu poema no teu registo própio do qual não sais!
    Beijos e um bom dia

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    1. Por vezes, o que queremos mesmo, é não esquecer.
      Bom Dia.
      Um abraço.

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  2. Gostei muitíssimo deste poema com um final perfeitamente inesperado... ou talvez não...

    Um forte abraço, L.!

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    1. Concordo, o final é inesperado. Os nossos sentimentos também o são, por vezes.
      Um abraço.

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  3. Não, o final não é inesperado — é sim, a cereja em cima do poema.

    Como eu gosto de passear à beira-mar do norte com botas de borracha.
    A fotografia tanto pode ser na Holanda como na Bélgica ou até mesmo na Alemanha 🇩🇪

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  4. © Piedade Araújo Sol (Pity) deixou um novo comentário na mensagem "":

    boa tarde
    depois de tantos anos a saudade a marcar presença.
    um belo poema de amor.
    resto de dia feliz.
    :)

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  5. Nossa memória afetiva sempre será uma linda lembrança.
    E esse amor que deixou sequelas ,L

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