Foto do autor do texto tomada do documentário VIDA SELVAGEM 



A imprevisível loucura

A inesperada razão de um regresso

sem nada de original a empurrar a vontade. 

A coincidente chegada da chuva 

fustigando a minha casa num ruído contínuo, 

os lábios do tempo a murmurarem 

os números dos dias e a sua finitude urgente, 

nas paredes as aguarelas de quando 

tudo era erguido com entusiasmo 

em que loucura era vibração, 

música, 

sentimento. 


O regresso às páginas marcadas 

dos vários livros interrompidos 

fechados pela mão branca da doença 

e o regresso sem nada de original 

à loucura obscura deste tempo alvoroçado 

que não previ. 

Terei tempo para recolher os gestos 

das paredes vencidas pela demora

que a matéria leva na sua transformação. 


Sento-me à porta da minha casa 

e sorrio a ver partir as andorinhas.



8 comentários:

  1. Esplêndido poema, L.!

    As andorinhas partirão sem nós... Viu-as, ao menos? Eu não as vejo há mais de uma década. Nem quando as canto as consigo ver...

    Forte abraço!

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    1. Eu vejo-as sobre a minha casa... aos gritos umas com as outras.
      Um abraço.

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  2. O que ainda espero ver, são algumas formigas com asas translúcidas. São as rainhas que nascem aos milhares, em Setembro... Muito poucas sobreviverão porque cada comunidade só precisa de uma rainha.
    Quando levava as minhas filhas à escola, de manhã, podíamos ver verdadeiros enxames de rainhas saindo apressadamente da terra húmida...
    Outro abraço!

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  3. Todo tiene su ciclo y las golondrinas retornarán de nuevo.
    Un abrazo

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    1. Cada primavera siempre espero a que vuelvan las golondrinas. Un abrazo

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  4. Sorri Poeta/Pintor
    As andorinhas voltam na Primavera.
    Um poema muito nostálgico.
    Deixo um abraço.
    :)

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