E fico por aqui
Eu nunca tomei um café de ocasião com ninguém
eu nunca comi à mesa com ninguém
[que quisesse negociar comigo
eu nunca fiz visitas a alguém só para não ser esquecido
eu nunca senti a pele de ninguém como se vestisse
[o corpo do outro
mas eu já passei os meus lábios por outros lábios frios
e fico por aqui
não posso fazer mais nada do que ser poeta
por isso ontem suicidei-me como um verdadeiro poeta
foi fácil ___ apenas deixei de respirar
aprendi com o meu pai que se suicidou três vezes
antes de morrer às mãos de uma doença humilhante
já vi a Gioconda
já vi a Vénus de Milo
já vi a Vitória de Samotrácia
já vi a fonte de Duchamp
já vi a Guernica
e fico por aqui
porque dia sim dia não
tudo se prepara em nós para a derrota.
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Eu nunca me ficaria por aqui
ResponderEliminarNão sendo poeta, faço poemas
e, por isso
acho que te entendi
Há dias em que não apetece continuar.
EliminarTodos passamos por fases menos boas onde o desalento dói, mas tu que és poeta acredito que não desistirás de o ser!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
Dias que nascem de outros dias, noites que nascem de outras noites. A poesia também dá voz ao desalento.
EliminarUm abraço.
Não fique por aqui, ainda é cedo.
ResponderEliminarGanhe alento e siga a caminhada.
Aproveite o dia em que diz Não à derrota
A estrada ainda não terminou
Ganhe força
E prossiga a sua escalada.
Se olhar para trás, verá que muitos lhe seguem as pisadas...
Muito obrigado.
EliminarBom dia
ResponderEliminarPenso que foi só mais um grande momento de inspiração poética , do que a poesia a si diga respeito.
JR
O meu Caro Joaquim percebe nas minhas palavras aquilo que pode haver de ficcional no que se escreve, penso que o aliciante para a leitura é o enigma, afinal, nada de novo, Pessoa disse "o poeta é um fingidor" e todo esse poema que ele escreveu é brilhante na sua verdade.
EliminarUm abraço
Numa sociedade orientada pela lógica capitalista, cujo discurso se caracteriza por um imperativo de gozo e de satisfação, em que não há lugar para a tristeza, para a falha, ou mesmo para a dor. O suicídio se configura como uma saída para se livrar da angústia. A angústia que não engana, visto que é real e experimentada no corpo dos poetas.
ResponderEliminarAo ler o poema recordei Heinrich von Kleist e o seu suicídio — O amor. A esperança. Tudo se foi.
No próximo mês de maio, quero me suicidar nas Cataratas do Niágara, mas antes, vejo pela última vez o urinol de Marcel Duchamp.
Compreendo e concordo com o primeiro período do seu comentário.
EliminarTambém compreendo o segundo período e constato como, afinal, os sentimentos e a forma dos os sentir eram então semelhantes aos dias de hoje o que determinou o fim trágico do escritor que citou mas, ainda aí, teve alguém solidário consigo na tragédia.
Quanto ao terceiro período, não me parece muito glorioso um suicídio num lugar onde, decerto, é totalmente anónima.
A peça de Duchamp já não é um urinol mas sim uma fonte.
Tenciono visitar Nova Iorque e as Cataratas do Niágara no próximo mês de maio‼️
EliminarMarcel Duchamp escolheu o URINOL justamente por sua falta de estética. A obra tem vários significados ocultos. Para ele, tinha um carácter erótico e a inversão física do objecto tinha conotações sexuais. Foi um choque de alta intensidade e numa força tão grande que provoca discussões calorosas até aos dias actuais.
Nessa visita que vai fazer, aconselho cuidado, está na história das Cataratas o desvario de pessoas que se lançaram dentro de barricas para ver o efeito, outras se lançaram por outros motivos e ficam lá cerca de 40
Eliminarpor ano.
A utilização dessa peça por Duchamp é um marco na História da Arte e dos seus conceitos... discutíveis, claro.
Sim, a poesia também expressa o desalento, evoca suicídios, convoca trovoadas, raios e coriscos... Tudo o que é humano cabe dentro de um poema. Além do mais, todos sabemos que a poesia também reflecte a realidade sociopolítica do país dos autores e do mundo inteiro. ..
ResponderEliminarTivesse eu as asas da Vitória de Samotrácia e talvez me atrevesse a sobrevoar as cataratas do Niágara sentada no urinol de Duchamp...
Forte abraço, L.!
PS- Não vejo o meu comentário na sua publicação de ontem... Era uma tonteira que falava de líquenes. Será que não carreguei no botão "publicar"?
Achei muita graça à conclusão do seu comentário. Eu diria, na poesia cabe tudo desde que com um tratamento harmonioso.
EliminarO seu comentário à publicação anterior não chegou cá, nem por mail. Terá a amabilidade de repetir?
Um obrigado e um abraço.
Já não me recordo do que disse sobre o seu poema, só me recordo de ter ficado deslumbrada com os líquenes da parede e de ter falado neles... Ah, e creio ter dito que o silêncio dialoga connosco de forma muito diferente. Sou o tipo de poeta que nunca consegue decorar poemas. Nem dos meus me recordo por inteiro imediatamente após tê-los escrito :(
ResponderEliminarDesculpe-me e outro abraço!
Obrigado, aqui fica o seu comentário, tão válido como o de ontem.
EliminarTambém eu nunca decorei nada do que escrevi por isso imprimo tudo para o caso de perder os ficheiros.
Outro abraço então.
" R y k @ r d o " deixou um novo comentário na mensagem "":
ResponderEliminarPoema encantador que muito gostei de ler. Parabéns.
.
Um domingo feliz.
Obrigado Ric@rdo, agradeço os votos antecipados de felicidade para domingo.
EliminarUm abraço.
Penso que chego um pouco tarde. Acho que já tudo foi
Eliminardito. Fico-me pelas obras de arte que refere, que marcaram
épocas ou pensamentos. Desde a Antiguidade Clássica,
passando pelo Renascimento, pelo ano 1917 (Rev.Russa)
com a Fonte de Duchamp (havendo polémica se será dele)
e por Guernica e tudo o que Picasso quis nele retratar.
Quanto ao tema do suicídio, citou Pessoa, e penso que,
na realidade, O Poeta finge a dor que deveras sente.
Bem, "Fico por aqui".
Um abraço
Olinda
Ilustre o seu comentário, não chegou tarde, de maneira nenhuma. Agradeço a atenção com que lê as minhas publicações. São os comentários de todos os meus leitores que fazem o interesse deste lugar.
EliminarObrigado, um abraço.
Caro Poeta/Pintor
ResponderEliminarconfesso que este poema deixou-me a pensar.
é contraditório mas talvez seja só para mim.
o Poeta consegue escrever nas entrelinhas para que se faça luz, no seu pensar.
penso que cheguei lá, mas li-o mais que uma vez.
boa semana.
:)
É muito importante para mim que os meus leitores tenham a reacção que descreveu. Escrevo e publico quase sempre, algo que desperte a reflexão do leitor. O seu comentário é muito agradável para mim.
EliminarUm abraço.