Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Até não haver memória 


Morro nestas águas e ressuscito

assim me mato ___ assim me salvo 

e por muito que esbraceje

nada me salva e tudo me salva

se não esbracejar e morrer

de mim nascerá o outro ___ a salvo 

com o peito cheio de ar 

para mergulhar de novo 

para morrer de novo 

e de novo se salvar 

numa multiplicação infinda e absurda 

de vidas sobrepostas 

a que dou os nomes de

paisagem

desterro 

mariposa

ilha 

pânico

até não haver mais memória 

de como se nasce

de como se morre

de como se passeia de mão dada.

 


13 comentários:

  1. Brancas Nuvens,
    Como disse alguém
    "A Vida é Ciclica",
    A diferença é que temos
    a oportunidade de acertar
    ou de errar menos.
    Lindos versos.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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    1. Concordo, importante é ter consciência da nossa finitude.
      Um abraço.

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  2. Um poema que consegue ser, em simultâneo, tremendamente assustador e extraordinariamente belo.
    E eu que me julgava uma "expert" por ter morrido e ressuscitado quatro vezes, apenas, calar-me-ei sobre o assunto, de agora em diante. Na sua poesia há muito, muitíssimo mais sofrimento do que na minha, L.

    Um largo abraço!

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    1. Uma coisa é a realidade, a sua, outra coisa é a ficção, a minha. Quanto a sofrimento é difícil estabelecer uma medida.
      Um abraço também.

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    2. No contexto do absurdismo tudo é possível. Tudo o que foge à razão e à lógica.
      Contudo, por vezes, nos sentimos envolvidos nessa teia...
      Um abraço
      Olinda

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    3. Peço desculpa.
      Comentei no sítio destinado a respostas.
      Não era minha intenção.
      Foi engano.

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    4. A poesia dá-nos a possibilidade do absurdo.
      O seu comentário funcionou na mesma.
      Um abraço também.

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  3. Estamos a passear e cada um a seu modo, nesse multiplicar de fatos que seu poema
    tão bem traduz _ nasce-se morre-se .E pensar que depois de tudo ,morrer é defintivo e esquecível.
    Abraço, L

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  4. Esa es la realidad de la vida. No siempre se puede nadar a favor de la corriente.
    Un abrazo

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  5. A morte é certa!
    Mas, existe o ser resiliente, e isso é que nos mantém vivos.
    Viver por vezes custa.
    Mas, morrer ainda não está na agenda.
    ;)

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