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Arrependo-me


No início era o espaço 

um projecto

depois as minhas memórias 

tornaram-se uma construção frágil 

na sua estrutura 

nem o amor consolidou as paredes


___ as velhas vidas 

são como o musgo

não há história nova

que torne salubre 

o espaço ocupado por 

palavras 

beijos

gritos

choros

despedidas


ou seja

amo uma ilha e ali fico

a construir mais uma memória 

frágil 

enquanto a cidade me esquece

e assim me torno desconhecido

___ um malogrado construtor

de memórias  


lanço à lareira acesa

os dez volumes do meu diário 

e arrependo-me depois

nem sei bem de quê.



 

12 comentários:

  1. No meu ninho-galeria
    não há parede para a poesia
    ...disso, tenho pena
    pois lá iria expor
    este teu poema

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    1. Copia-o à mão num papel simples e pendura-o com fita gomada. Sentia-me honrado.

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  2. Há coisas que nunca saberemos porque é que as largamos ao ar, votamos ao esquecimento....
    E, no entanto, fazem parte da nossa vida e não as devemos ignorar...
    Belo...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Com o decorrer dos anos valorizamos coisas a que não demos atenção quando aconteceram.
      Um abraço.

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  3. También a una isla pueden acudir los barcos y desembarcar también en ella.
    Un abrazo

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    1. Tu perspectiva optimista te ayuda a afrontar situaciones difíciles.
      Un abrazo.

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  4. Pois, os actos irremediáveis são sempre de evitar...

    Boa semana

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    1. E são tantos os que ocorrem durante a vida de todos nós.
      Boa semana.
      Um abraço.

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  5. Lindíssima fotografia na sua simplicidade e significado.
    O malogrado construtor de memórias arrepende-se de ter lançado à lareira os dez volumes do seu diário. Nós leitores sabemos a razão do seu arrependimento e lamentamos não termos a oportunidade de ler esses cadernos íntimos.

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    1. O autor é, ele próprio, os dez volumes do seu diário. Foram queimados, o autor ficou convencido que já ninguém tem paciência para saber o que contêm.

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  6. Um poema que me diz muito.
    A cidade esqueceu-me e eu também me esqueci.
    Por vezes a ilha sufoca.
    Por isso e outras coisas mais, queimamos aquilo que nos deixa memórias, e quicá, podia ser um legado.
    Cada estrofe me fez sentido.
    A foto, simples e completa para o poema.
    Bom domingo
    :)

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    1. Chegamos a um ponto em que há um desejo de afastamento.
      Um abraço.

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