Foto do autor do texto tomada do documentário VIDA SELVAGEM 



Dizem que cheguei 


Ouvi alguém dizer

  está a chegar! 

é para mim que falam

não há mais ninguém 

neste lugar de onde venho


não trago bagagem

e não reconheço o lugar

estou quente aqui

receio o frio lá fora

receio as vozes

o alarido

como sobreviverei

é o mistério 

chego ___ 

___ mesmo que essa

não seja a minha vontade

e logo me açoitam

e me obrigam a chorar

trago na mente o desconhecido

e apenas o poder

das minhas pequenas mãos 

ah ___ e da boca

da minha boca virgem

de palavras

de sabores


agarro por instinto

a minha existência 

saúdam-me 

passam-me de mão em mão 

até me apoiarem entre

dois seios enormes ___ quentes

que golfam sabores

na minha boca virgem

agora só de palavras


aprendo a respirar ___

___ lentamente 

e adormeço hoje

vou acordar amanhã sozinho

setenta anos depois.




9 comentários:

  1. O nascimento do POETA é o que nos conta este poema.
    Uma interpretação absurda?!
    Provavelmente!!

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  2. Uma viagem no tempo bem atribulada e quer dizer que hoje fazes anos...setenta! Pelo que escreves não gostas nada de o fazer porque te atormenta. Foi o que senti. A foto combina exatamente com as tuas palavras! Gostei!
    Beijos e um bom sábado

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    1. Não faço anos hoje nem farei setenta. A poesia nasce fora do tempo, este texto é uma generalidade.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  3. Un viaje, que te hace retoceder en el tiempo y al inicio de lo que iba a ocupar tu vida.
    Un abrazo

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  4. Talvez a mais bela representação de um nascimento que li em toda a minha vida.
    Quando envelhecemos, se somos poetas, pode parecer-nos que nascemos no verso imediatamente anterior.
    A fotografia é lindíssima, mas o poema ofusca-a. Não, o contrário não é verdadeiro.

    Forte abraço, L.!

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    1. O momento em que tudo começou, do ponto de vista do utilizador.
      Um abraço.

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  5. Lá, no teu poema
    há uma referência
    a uma mão pequena
    quando acordares
    esquece as palavras
    e usa-a
    usa, ambas as mãos pequenas
    o Mundo precisa de gestos
    mais do que palavras
    pois estas, leva-as o vento
    (e nunca acordarás só)

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