Inventário de palavras


Faço um inventário das palavras perdidas

perdi-as porque nunca estive atento 

e acordo sempre outonado 

invento palavras que tenham a ver 

com a minha identidade 

até ao cansaço da língua


Nem todas as palavras são nossas 

então apodero-me também 

das que estão distraídas e utilizo-as 

em pensamentos 

em acusações 

em transfusões de verdades 


Perdi muitas em cartas que escrevi e 

deixei fugir algumas das que me acordaram 

faço um inventário das palavras perdidas 

guardo estas

          groselha 

          pedra 

          Geneviève

          Atlântico 

          Paris 

          muro 

          ponte 

          carta 

estou pronto para ouvir as que não perdi 

dou tempo às outras 

para que liquidem as mensagens 

para que dedilhem sons

para que morram pelo direito à poesia.



12 comentários:

  1. Carl Sagan disse que "somos feitos de poeira de estrelas”. Outros dizem que somos feitos de palavras. Eu digo que somos feitos de meias-palavras, porque perdemos a coragem de as dizer inteiras.
    Magnífico poema, Luis. Feito de palavras inteiras e imperdíveis.
    Beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As palavras são ideias e nós também somos as nossas ideias.
      Um abraço.

      Eliminar
  2. e pelo direito à poesia
    que nunca nenhuma palavra falte
    para matar a fome do Poeta.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Procuramos as palavras, elas existem, mas por vezes não as encontramos.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. VENTANA DE FOTO deixou um novo comentário na mensagem "":

    Siempre hay tiempo de recuperarlas y escribir una buena poesía con ellas.
    Un abrazo.

    ResponderEliminar
  4. Oi L
    Já no friozinho da Suiça ,veho deixar 'palavras' _ sem elas como poderi
    estar contigo ? risos
    Grande abraço e volto devagarinho ainda com fuso horário confuso , dormindo
    e acordando antes ou depois ...
    Gosto do que fazes e das palavras que trazes.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Continuo aqui a usar as palavras. Bem vinda, sem os meus leitores este lugar seria desértico. Agradeço o simpático comentário.
      Saúde.
      Um abraço.

      Eliminar
  5. Ando
    as palavras poupando
    e assim
    com palavras poucas
    se faz
    o que mais me apraz
    e cá vai
    o doce
    perguntou ao doce
    qual era o doce
    mais doce
    e o doce
    respondeu ao doce
    que o doce mais doce
    era o poema
    onde a palavra doce
    impera docemente
    repetidamente
    sempre
    e sempre

    ResponderEliminar
  6. © Piedade Araújo Sol (Pity) deixou um novo comentário na mensagem "":

    as palavras andam por aí
    por vezes, fogem no vento
    e na poeira sobre os móveis
    mas voltam...
    o Poeta precisa delas.

    ;)

    ResponderEliminar