Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Aniversário 


Todos os dias te encaras a ti próprio 

uma nuvem aromática de café preenche-te

quando te olhas no espelho

todas as manhãs depois de te barrares

com o after shave gel


ouves uma voz de mulher que diz

     estou cansada

vês no espelho que a mulher

passa por detrás de ti com duas malas

há um halo sobre a sua cabeça 

uma gota de sangue resvala  

e cai dos teus lábios no branco do lavatório 

o corte sublinhou a mensagem  

daquela mulher

da tua mulher

da mulher que julgavas tua


a voz dela ficou na casa faz cinco anos

que a ouves sempre neste dia

hoje mais forte daí o sangue

faz cinco anos que quiseste responder

mas não foste capaz

     estavas cansado


pensas

não sou mais do que um rosto 

pensas

o amor existe mas não tem nome

pensas

o amor é uma mãe amamentando

não mais do que isso


o aroma do café acorda-me do enigma

agora percebo porque nas despedidas 

a boca me sabe sempre a sangue.



 

17 comentários:

  1. Bom dia
    Diria: Um pouco sangrento mas quiçá , porquê?

    JR

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  2. a palavra sangue arrepia-me
    mas
    a palavra sangue em vez de morte
    pode ser vida.

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  3. Há épocas do ano em que as ausências doem mais.
    Recordá-las trazem interrogações que pensávamos
    estar bem escondidas dentro de nós.
    A saudade ou o vazio instala-se...
    Um abraço
    Olinda

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    1. Essa é uma realidade que se constata, sobretudo nesta época do ano.
      Um abraço.

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  4. O aroma do café ☕️ acorda-me todas as manhãs.
    A boca não me sabe a sangue 🩸 mas sim, a doce de laranja.

    Lindíssima fotografia.
    Provavelmente a cozinha de um museu da região.

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    1. O aroma do café, de manhã, conforta-nos.
      A imagem é de uma cozinha na Dinamarca.

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer14 de dezembro de 2023 às 18:30

      A cozinha é tipicamente dinamarquesa.
      A minha pergunta era, onde se encontra concretamente.
      Desculpe eu ser tão maçadora.

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    3. Não sei exactamente onde.
      Nada a desculpar.

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  5. La palabra sangre, va ligada a la violencia y ninguna mujer debe de ser maltratada.
    Un abrazo.

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    1. La sangre es dolor, es sufrimiento, tanto en mujeres como en hombres.
      Un abrazo.

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  6. Por vezes as ausências daqueles que amamos convivem connosco no dia a dia e quase não damos por elas. Mas por qualquer razão, umas férias que se preparam, um aniversário, o Natal que se aproxima, essa saudade cresce e os fantasmas da ausência, tornam-se quase reais, fazendo o "lábio-coração" sangrar. Um poema muito dolorido. Gosto da foto com a sua loiça em esmalte.
    Abraço e saúde

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    1. O seu comentário é muito real e objectivo. Há ausências que são presenças cíclicas.
      Saúde, um abraço.

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  7. Um amor quando acaba mesmo na constatação de que já não o é (ai, o cansaço) deixa sempre esse vazio, esse vermelho sangue que é dor.

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  8. há certas alturas do ano que a saudade doi
    faz tantos anos e ainda doi a partida inevitável do meu pai
    no dia primeiro do ano...
    não me sabe a sangue...mas uma dor imensa ....
    :(

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