Foto de Bartolomeu Rodrigues


 

O acto poético ___ o corpo 


Inventamo-nos na obediência ao acto poético 

e esquecemos a complexidade do corpo

e as suas carências 

cantamos o amor e a morte dele

inventando um espaço de vácuo 

onde sobreviver ao amor e à morte dele

e nesse acto esquecemos

o corpo e a sua respiração 

sendo no entanto o corpo 

o lugar do amor e da morte dele


inventamo-nos na obediência ao acto poético

escrevendo sobre a continuidade do que acabou

ou do que nem chegou a existir

o poeta precisa do calor de um outro corpo

sem o que morrerá 

com a poesia entre os dentes

ausentando-se do seu próprio corpo gelado

em obediência ao acto poético.




21 comentários:

  1. E sem corpo não há poema...
    Magnífico, gostei imenso.
    Boa semana e Feliz Ano Novo.
    Um abraço.

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  2. such a lovely post, yes the body is our everything! thanks so much for sharing, hope you have an amazing new year!

    xoxo, midori

    https://www.midorilinea.com/blogs/midori-linea/my-new-creative-outlet-for-my-daughter-hannah

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    1. Good morning. I welcome your arrival, it is a pleasure to count on you as a reader of my writings. Happy New Year 2024.
      A hug.

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  3. um corpo precisa sempre de outro corpo
    gostei do poema e da foto
    bom ano e muita saúde.

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    1. Brancas Nuvens Negras2 de janeiro de 2024 às 15:52

      Muito obrigado.
      Bom Ano.
      Um abraço.

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  4. Respostas
    1. Brancas Nuvens Negras2 de janeiro de 2024 às 15:53

      O autor fica contente com o seu comentário.
      Um abraço.

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  5. Limitar o acto poético à existência de outro corpo
    Como acto poético necessário, é pouco
    Um poeta como tu não deveria esquecer o sonho
    Aquele em que
    "O MUNDO PULA E AVANÇA
    COMO BOLA COLORIDA
    ENTRE AS MÃOS
    DE UMA CRIANÇA"

    Abraço expectante

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    1. As crianças não vivem num mundo com bolas coloridas entre as mãos.
      Vivem num mundo povoado de corpos de crianças mortas.

      Perdoem-me a intromissão 🧐

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    2. Teresa, se António Gedeão
      lesse esta tua intromissão
      te responderia
      que não sabes, nem sonhas
      que o sonho comanda a vida

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    3. Para haver crianças tem de haver outro corpo.

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    4. Mesmo longe da realidade, o nosso querido amigo Rogério ainda sabe, que sem outro corpo não há crianças.

      As crianças de Gaza estão-se nas tintas para a poesia de António Gedeão.
      Elas lutam pela sua sobrevivência sem bolas coloridas entre as mãos.

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  6. A repetição de "a morte dele", corpo, coloca-nos no centro do problema.
    É corrente falar-se do amor, romântico, quase esquecendo-nos que
    espírito e matéria se unem e concorrem para a nossa sanidade total.
    O acto poético terá de ser conivente com essa circunstância.
    Apreciei o seu poema e a forma como aborda o assunto.
    Um abraço
    Olinda

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    1. Estou muito de acordo com o que disse. Por muito e elevado espirito que tenhamos, o corpo é fundamental.
      Um abraço.

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  7. Esplêndido poema, L.

    Tão esplêndido que até para mim se torna difícil iludir a ideia de um pedido de socorro com carácter de urgência. Mas como podemos nós, poetas vadios que nos seus poemas vamos debicando diariamente, saber a cor o toque e o cheiro do corpo cuja ausência o condena? Esplêndido, mas inquietante para mim que só na mais completa solidão consigo florescer enquanto poeta...

    Um abraço. Um abraço apertado.

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    1. O poeta pode existir sem o corpo do outro mas não sem o seu próprio corpo. Ainda assim, na ausência do outro, isso ficará espelhado no que escrever.
      Um abraço também.

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  8. O Poema precisa do Poeta
    E o Poeta precisa do corpo(o seu) e da Musa, sem o qual o poema não existia.
    Muito belo este poema.
    :)

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