Voltei mas vou partir
Voltei ao antigo restaurante da cidade
aquele em que jantávamos há trinta anos
nesses jantares bebias-me
em pequenos tragos consentidos
partilhava contigo o meu sangue
sempre acreditando na renovação da vida
nunca usei a palavra amor
por ter um significado demasiado vago
preferia dizer
que pulsávamos nas veias um do outro
ou que víamos pelos mesmos olhos
nessas noites em que aceitavas ficar comigo
rasgávamos os nossos desencontros
nestes encontros em que não nos reconheciamos
tal a paisagem exótica que exibiamos
um para o outro em imagens e sons
até o sol dessa noite se extinguir ___
___ depois lia-te poemas até adormeceres
de manhã voltávamos a ser dois amigos
até novo jantar no antigo restaurante da cidade
em que te oferecia o meu sangue renovado ___
___ um dia foi fatal o nosso desencontro
não mais sangue naquela mesa
não mais poemas na nossa cama
Nunca mais deixei de jantar
no antigo restaurante da cidade
nos nossos dias habituais
trinta anos depois vou partir
deixo num sobrescrito este poema
pedindo que te seja entregue
se por acaso voltares um dia
deixo-te ainda o meu chapéu.
Achei tanta piada ao chapéu [peça de museu] que não consigo me concentrar na análise do poema.
ResponderEliminarEspero que volte e se concentre.
EliminarBonito e intenso, li e voltei a ler. Cativou-me, parabéns!
ResponderEliminarBeijinhos
O seu comentário deixa o autor satisfeito.
EliminarMuito Obrigado.
Um abraço.
Boa tarde Luís,
ResponderEliminarTão belo este poema e tão comovente, que fico sem palavras.
Gostei muito!
Beijinhos e continuação de boa semana.
Emília
Memórias que se esfumam, chegam a um ponto que se tornam ficcionais.
EliminarBoa semana.
Um abraço.
Os encontros e os desencontros em memórias que se tornam apenas em fumo...
ResponderEliminarGostei muito...
Beijos e abraços
Marta
As memórias são uma fonte de inspiração.
EliminarUm abraço.
Dessas lembranças que esvoaçam sempre que bate uma leve nostalgia.
ResponderEliminarQue bom quando as temos !!
Grande abraço, L
A nostalgia é o clima propício à poesia.
EliminarUm abraço
O poeta tem razão quando diz que „ A poesia não é, propriamente, o lugar do real e da coerência.“
ResponderEliminarAssim, compreendi o chapéu pomposo, que nem o meu avô materno monárquico, gostaria de o usar.
Ou seria lá, que Marcel Proust escondia as suas „madeleines“?!
As memórias de um poeta, mesmo incoerentes, têm magia.
Não sei se Proust chegou a usar um chapéu assim, o seu serviço militar foi curto, talvez por brincadeira tenha usado um chapéu parecido do seu amigo Robert de Saint-Loup.
EliminarTudo o que ocorre rompendo com a realidade, tem uma certa magia.
"preferia dizer
ResponderEliminarque pulsávamos nas veias um do outro
ou que víamos pelos mesmos olhos"
Que bela definição de amor...
Obrigado Grande Rogério.
EliminarLos recuerdos, son mejor analizados, si son revisados después de un largo tiempo.
ResponderEliminarNo es lo misma la percepción de lo ocurrido, recientemente pasados a después de bastantes años ocurridos.
Un abrazo.
Los recuerdos iniciales, con el tiempo, se convierten en historias más completas.
EliminarSalud.
Puxa... contou uma linda estória em versos! Admiro quem faz assim tão lindamente. Bju
ResponderEliminarObrigado pelo simpático comentário.
EliminarUm abraço.
Tão bonito que até parece real!!
ResponderEliminar.
Estamos no caminho certo...
Beijos e uma excelente semana! Boa noite.
A realidade pode ser o início de uma ficção.
EliminarUm abraço.