Fahrenheit


Hoje acordei e disse-te

Bom dia

tinha acabado o meu sonho

e eras tu vivendo nele

disse-te

Bom dia

e era o primeiro dia

em que ia folhear o livro

de páginas todas brancas que ficou

do nosso romance inacabado


um bando de papagaios

escolheu o nosso jardim

pensando terem chegado ao paraíso 


tudo branco no entanto

sem som

disse-te

Bom dia

e ao meu lado o deserto

todo branco e silencioso 

com um ligeiro sopro

de Fahrenheit do meu corpo 

na tua almofada.



Foto do autor do texto 




14 comentários:

  1. Questiono-me sobre o que é um romance inacabado...será quando apenas um parte e o outro fica à espera? Ou quando os dois nutrem o mesmo sentimento mas algo mais forte os afasta? Ou serão os amores cansados de existirem que rumam a outros lugares mas mantêm esse contacto de quem (ainda) alimenta uma pequena chama, algo que sobrou mas não é suficientemente forte para promover o reencontro?

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    1. Todas as hipóteses que citou poderão constituir a ideia de um romance inacabado. O reencontro, por vezes, não é possível.
      Um abraço.

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  2. Teresa Palmira Hoffbauer3 de fevereiro de 2024 às 12:45

    Fahrenheit 451 um livro e um filme absolutamente inesquecíveis.

    Também eu digo „bom dia“.
    A nossa polémica terminou ontem.
    E os papagaios no meu jardim alegram-se com a paz.
    A minha almofada segreda-me que a POESIA é que conta.

    Um belo poema que me levou ao paraíso branco da minha imaginação.

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    1. Importante é a poesia, sim, desde que haja condições para ela ser criada e sobretudo, para ser lida.
      Branco... é Paz.

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  3. Uma tela em branco pronto a ser preenchido com uma nova história...
    Num mundo sem livros, desertos brancos, poesia branca e o grau
    Fahrenheit a entrar em acção.
    Bom dia, é um bom começo.
    Um abraço
    Olinda

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    1. A ausência também é um estado que nos pode fazer lembrar alguém.
      Um abraço.

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  4. páginas em branco
    onde o final ficou em aberto
    e o aroma entranhado
    num corpo, que não se esquece....
    bfs

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  5. Espero que ese fondo en blanco,no permanezca así mucho tiempo y puedas escribir en él unas buenas historias.
    Un abrazo.

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    1. Renacemos del blanco, que al fin y al cabo son todos los colores.
      Un abrazo.

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  6. O título remeteu-me de imediato para o Fharenheit 451 de Ray Bradbury. É-me impossível imaginar um relacionamento romântico a reflorescer dessa palavra... Mas isto sou eu que continuo mais frágil e emotiva do que o meu habitual...

    Forte abraço, L.!

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    1. Ficou apenas um sopro desse perfume. Tudo o resto em branco.
      Um abraço.

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  7. Caro Poeta/Pintor/Fotógrafo e Amigo
    Um poema melancolico onde a ilusão nos tolhe os sentidos.
    Conheço muito bem o aroma do Fharenheit, e dou os parabéns pelo gosto do autor.
    Gostei !
    Boa semana
    :)

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