Foto de Daniel Filipe Rodrigues


Vivo morto


Já estou morto e ainda ninguém sabe

telefonam-me e como me ouvem falar

não sabem que já morri

os meus continuam a pôr um lugar na mesa

esperam que eu chegue a casa

como falto julgam que durmo fora


eu ___ já morto consulto um mapa

para determinar onde a morte me levou

a geografia nunca foi o meu forte

e os cuidados com o corpo também não 

descubro então vários lugares que são 

apenas um numa exígua imensidade

e fico a saber que morrerei mais vezes

assim ___ numa sucessão de mortes

a que chamam vida


     Para mim morreste! 


disseram-me ___ 

___ e eu morri e vivi de novo.



 

18 comentários:

  1. Sabes? A mim a tua morte não me engana... tu, enquanto morto, tens mais vida que todos esses zumbis que andam por aí...

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    1. Faço os possíveis... parar é morrer.

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    2. Adorei este comentário do Rogério, é isso mesmo:)

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  2. "Memorias de um Espírito". Ocorre-me.
    E gosto desse tom fúnebre que diz mais
    do que possamos imaginar.
    Um abraço
    Olinda

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    1. O título que sugere está muito adequado.
      Um abraço.

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  3. Tu és um espírito escorregadio e ensaias muito bem a morte! Desejo que não venha tão cedo porque fazes muita falta neste mundo de cabos.
    Beijos e um bom feriado

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    1. Não compreendi o significado da última palavra, ainda assim, o comentário é muito simpático.
      Obrigado.
      Um abraço.

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    2. Talvez... ou isso é apenas um gracejo?

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  4. O desamor pode ser muito cruel, às vezes tem essa expressão da raiva, outras vezes é mais mansinho, mas não menos doloroso. Mas adoro a expressão popular " o que não me mata, torna-me mais forte", é corriqueira, mas dá muito alento. E de cada vez que escreve um poema vive e dá-nos vida, pode não ser o suficiente mas é alguma coisa.

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    1. Talvez se tenha tornado popular, mas vem de Nietzche, essa expressão, CCF.
      Por cá usa-se mais "o que não mata engorda".
      Abraço!

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  5. Concordo, a frieza do desamor mata tudo lentamente... aos poucos, mas nunca chega à morte final, apenas consome. A poesia é a tentativa de salvação a esbracejar na amargura.
    Um abraço.

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  6. É o homem, não o autor, quem se sente mal amado ao ponto de se descrever morto em parte incerta...
    O autor é muitíssimo bem amado pelos seus leitores.

    Forte abraço, L.!

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    1. É um bem para o homem/autor ter comentários tão positivos dos seus leitores e, agora, este seu que vem mostrar que talvez ainda haja que tem estima por este desiludido com o amor a quem resta amar as palavras.
      Um abraço.

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  7. Caro Poeta/Pintor/Fotógrafo e Amigo
    Muita criatividade.
    Surreal em estado puro.
    Boa semana
    :)

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