Estou em algum lugar


Aqui estou sempre

com este vício das palavras

ou a ideia talvez errada

de que com elas formo versos

na tentativa talvez errada de 

que me descobrem de que 

me matam a fome de conversa

mesmo que tudo por aqui

continue em silêncio 

quando me escondo mostrando-me


sabendo-vos por aqui confesso

que vivo num país 

sem mar ___ sem terra ___ sem céu 

e não me ofendo se me disserem

que isto não é um país 

talvez até o mundo

já tenha deixado de existir

ou sou eu que quero mudar 

o sentido das palavras

quando me escondo mostrando-me


escrevo com a fantasia

de que chegarei a outro lugar

onde todos me esperam

e me descobrem

e me matam a fome de conversa

sobre o mundo que deixou de existir

e sobre a mudança do sentido das palavras

onde me escondo mostrando-me

e me vou lentamente perante todos

no fumo do meu cachimbo.


 



 

20 comentários:

  1. escreves com a fantasia
    de que chegarás a outro lugar
    onde todos te esperam
    e te descobrem

    também escrevo
    acredites ou não
    com a mesma motivação

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  2. "quando me escondo mostrando-me"
    "onde me escondo mostrando-me"
    Um mundo construído com e para os leitores,
    tenho essa ilusão. E gosto de estar nele. Talvez
    apenas exista na nossa imaginação. Mesmo
    assim, matamos "a nossa fome de conversa".
    Um abraço
    Olinda

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    1. É uma recompensa para o autor quando os leitores mostram o seu agrado.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  3. Sou muito fã de blogues, desde a primeira vez que os conheci achei-os uma belíssima ferramenta para a escrita e comunicação com o mundo. E tenho tido ao longo dos anos muitos sinais de amizade das pessoas que passam na minha rua e tem sabido bem. Mas ainda assim acho que não nos matam a fome de conversa nem nos dão um abraço (desses de toque) quando precisamos. Dito isto, acho que entendo o poema e até me encontro dentro dele.

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    1. Definiu muito bem as características dos blogs e a prática que usamos, tanto os que os criam como os que nos vêm ver. Continuaremos, apesar de tudo há cruzamentos de sentimentos e sensibilidades.
      Um abraço.

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  4. Só não sou fã de cachimbo ou cigarro kkkk. Mas, respeito quem usa. Desculpe o comentário.

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    1. Olá Luiz
      Também não sou fumador, há muitos anos.
      Um abraço
      Luís

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  5. Teresa Palmira Hoffbauer1 de março de 2024 às 20:20

    Jean Sibelius é o sinfónico mais importante do século Xx ao lado de Gustav Mahler — os dois se encontraram, mas uma faísca não pulou — É impossível não adicionar Dmitri Shostakovich. Embora Sibelius tenha experimentado muito mais com forma e harmonia.

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  6. Nem sequer a inesperada presença do capitão Haddock ofuscaria este poema, L.... Pelo menos eu não fiquei ofuscada, embora, por décimos de segundo, tenha acreditado que tinha clicado no link errado...

    Mas desci e lá o vi, não o vendo, ora escondendo-se ora mostrando-se, cheio de fome de conversa, que de palavras não pode tê-la, ou não as deixaria - às palavras... - por aí, a um clic de uma trincadela de qualquer um dos seus leitores...

    Um forte abraço, L.

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    1. Os meus leitores preenchem os meus dias. A Maria João é uma presença que me estimula.
      Um abraço.

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  7. Boa tarde Luís,
    Mesmo pensando esconder-se, as suas palavras mostram-se sempre exímias em bela poesia, como é o caso.
    Beijinhos,
    Emília

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  8. escrever mostando-se ou não, já está (sempre esteve) na massa do sangue.
    e assim se vai fazendo poesia

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